Opinião - A mulher na era digital


12/03/2010 21:35

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Mundialmente vinculado às reivindicações femininas por melhores condições de trabalho, justiça e igualdade social, o Dia Internacional da Mulher é um momento de reflexão sobre abusos, mas também sobre conquistas e mudanças sociais conseguidas pelas mulheres. Ainda existem inúmeros desafios a serem superados e, atualmente, uma das barreiras impostas é a era digital.

O mundo tecnológico não se abriu para as mulheres. Tradição cultural? Talvez. Desde criança, meninos e meninas são preparados para a vida sob diferentes ópticas. Meninos ainda ganham carrinhos, motos, legos e caixas de ferramenta. Meninas em sua maioria ganham bonecas, vassourinhas, panelinhas, fogõezinhos. Ou seja, as garotas têm brinquedos que as conduzem de maneira subliminar aos afazeres domésticos. Raramente, são incentivadas a gostar de tecnologias ou brinquedos que as levem ao desenvolvimento da lógica. Enquanto isso, os garotos quebram a cabeça montando e desmontando seus brinquedos.

Como resultado dessa educação sexista, a diferença se traduz na adolescência e, por fim, na vida adulta. Quando jovens, as expectativas sobre as garotas se concentram na beleza, na preocupação com cremes, dietas, moda e tantos outros blá-blá-blás que já consomem parte de seu tempo. Os garotos se dedicam a cursos de informática, inglês e ao lazer, sim, com os amigos, como jogos de futebol. Não é à toa que as mulheres acabam por subestimar sua própria capacidade nessas áreas mais ditas do universo masculino. E um simples olhar enviesado pode funcionar como um ótimo repelente para afastá-la dessas áreas.

Não existem fórmulas mágicas para aumentar o interesse das mulheres pelas profissões tecnológicas. É preciso resolver o problema atacando o cerne da questão. Somos diferentes, sim, mas precisamos fazer com que a diferença não signifique favorecimento de um gênero sobre o outro. Mulher e tecnologia podem e devem caminhar juntas. Todos somos aptos a essas habilidades. A questão é se nós a desenvolvemos. A tecnologia só faz sentido se facilita nossa vida.

A barreira vem sendo pouco a pouco superada. Hoje, no Brasil, as mulheres já têm mais anos de estudo que os homens. Pesquisas mostram que entre os jovens entre 12 e 17 anos, 35% das meninas são autoras de blogs contra 20% dos meninos. O Ibope aponta ainda que a presença das brasileiras na web chegou à marca de 48,9% no ano passado. O problema está então no tipo de uso que cada um faz. Garotas participam mais de sites de relacionamento, montam seus diários virtuais. Já os rapazes estão mais familiarizados a sites que promovem a disputa e estimulam o raciocínio.

Diferenças à parte, as mulheres estão, portanto, conquistando cada vez mais espaço na sociedade do conhecimento e hoje, mesmo que ainda sejam minoria, muitas já estão se consolidando no mercado de trabalho, em altos postos de comando ou não. Pela capacidade feminina de pensar em múltiplas perspectivas e de realizar muitas tarefas ao mesmo tempo, creio que isso torna a mulher apta a derrubar mais essa barreira sem grandes traumas, já que em termos de tecnologia é preciso ser rápido e raciocinar de maneira multimídia. Mas penso também que o que conta mesmo é a competência e não o gênero.



*Beth Sahão é deputada estadual pelo PT

alesp