UM TAL DE BENTO - OPINIÃO

Milton Flávio*
17/10/2001 18:28

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"Nossa meta é não dar trégua ao ministro." A frase, publicada em um jornal de grande circulação, é atribuída a um tal de Bento Ferreira, um rapaz de 27 anos, estudante de Economia da Universidade Federal do Paraná. Ela foi por ele proferida em Brasília, no Dia do Professor, durante o Congresso Brasileiro de Qualidade na Educação, ocasião em que professores e funcionários das universidades federais, em greve há mais de dois meses, resolveram dar vazão à sua total falta de respeito e agredir verbalmente o ministro da Educação, Paulo Renato, e a primeira-dama, Ruth Cardoso.

O leitor atento deve estar se perguntando o que Bento estaria fazendo em Brasília, já que mora e estuda no Paraná e, pelo que foi publicado, não é professor nem funcionário de universidade federal. É lícito imaginar, embora não se tenham maiores informações sobre tão ilustre personagem, que Bento estava fazendo lá o que faz uma parte dos estudantes das universidades públicas: política. É bastante provável que ele faça parte do minoritário e ruidoso bloco dos que pouco estudam, mas agitam bastante, da banda que trombeteia contra o Provão, coloca-se contra qualquer iniciativa que objetive cobrar melhor desempenho dos docentes e instituições e defende o indefensável monopólio que a UNE e UBES detinham sobre a emissão de carteirinhas.

A se julgar pela sua idade, 27 anos, e capacidade de deslocamento, é provável que o tal do Bento não esteja entre os melhores alunos de sua turma e disponha de recursos financeiros para cruzar o país protestando contra o que alguns frasistas convencionaram chamar de "sucateamento do ensino superior público". Ao apoiar uma greve marcada pelo radicalismo - radicalismo, diga-se, pautado pelo calendário eleitoral -, Bento e sua turma correm o risco de perder um semestre por falta de aulas e de privar milhares de recém-formados do Ensino Médio de ingressar em uma universidade pública no início do próximo ano.

Tais questões, no entanto, devem lhe parecer coisas menores, diante da necessidade imperiosa de protestar em favor do ensino superior, público e gratuito, para todos - para os que de fato querem estudar e, em especial, para os que, como ele, pretendem apenas e tão-somente fazer política. É lamentável que alguns professores das universidades federais - de quem se deve esperar ao menos bom senso e honestidade intelectual - se igualem em pensamento e linguagem aos "Bentos da vida". Fazer o quê, se o desejo é apenas "não dar trégua ao ministro"?

Milton Flávio é deputado pelo PSDB, presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Assembléia Legislativa de São Paulo e professor da Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu

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