"Uma escultura é um centro de espaço tridimensional" - afirma o filósofo americano Suzanne Langer. E prossegue: "É um volume virtualmente cinético que domina um espaço ambiental. A escultura é literalmente a imagem do volume cinético no espaço sensorial. A forma escultural é uma abstração repleta de força".

A sensação espacial na obra de Annamaria Cappanari parece estar ligada a três reações psicológicas frente ao mundo exterior: o encantamento, a surpresa e a angústia. Cada qual destas três reações é uma fonte de criatividade na forma e na superfície dos materiais.

Alias, é a matéria e a estrutura que contam para essa escultora e não a massa e o volume, ela inscreve suas tensões no espaço por intermédio de símbolos semi-abstratos próximos de linhas geométricas. Seus materiais são o aço, o mármore ou o granito, e suas formas, com tendência a um simbolismo são próximas do mundo orgânico.

A aparente simplicidade de suas formas depende quase sempre da adaptação de duas partes de tal modo que elas possam se unir numa forma hipoteticamente fechada ou coexistir numa relação de mutação onde as tensões permanecem orientadas, uma em direção a outra, se atraindo e se rejeitando. O ponto onde os dois elementos se encontram ou se tocam é, ao mesmo tempo, onde se concentra a possibilidade de movimento.

Nas suas esculturas Annamaria Cappanari enfrenta também o problema do vazio. O seu esforço consiste efetivamente em modelar o vazio para dar um sentido ao desenvolvimento do pleno. É o vazio que completa o pleno, interrompe o seu desenvolvimento, precipita-o em cavidades cavernosas, o faz emergir e retomar o discurso das formas. Este desenvolvimento é de uma lógica contemporaneamente bárbara e friamente intelectual.

Acompanhando com a mão a estrutura em movimento, constatamos que a interrupção é tão somente aparente e que a linha continua apenas além de onde a perdemos, pela aparente tensão do vazio.

As esculturas "Entrosamento" e "Transpasse", doadas ao Museu da Escultura ao Ar Livre, por Annamaria Cappanari revelam uma elegância verdadeiramente rara e apresentam um resultado de harmonia que agrada e desperta forte interesse, superando todo tipo de banalidade além de utilizar uma linguagem moderna, racional e coerente.



A Escultora

ANCA, pseudônimo de Annamaria Cappanari nasceu em Gênova, Itália, em 1930. Acompanhando a família, transferiu-se para o Brasil, fixando residência em São Paulo onde se formou em química industrial.

Desde muito jovem interessou-se pelas artes em geral. Mais tarde estudou escultura com o professor Kurt Spribille e freqüentou durante três anos um curso no Atelier de Nicolas Vlavianos. Especializou-se no trabalho do aço inoxidável, do mármore, da fundição em bronze e em outros materiais.

Realizou inúmeras viagens de estudo em diversos países da Europa, freqüentando Museus e visitando Ateliers de conhecidos escultores. É membro da AIAP-Associação Internacional de Artes Plásticas, organismo filiado à UNESCO.

Desde 1977, tem participado de exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior, destacando-se entre elas: "Galeria Documenta" , SP (1977); Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UPS; "3º Salão de Artes Plásticas da Noroeste" , Penápolis, SP , "Panorama da Escultora e do Objeto" , Museu de Arte Moderna de São Paulo , SP (1978); "Clube dos Artistas de São Paulo" , SP , "Paço de Artes de São Paulo, (1979); "Galeria Fernando de Noronha" , SP , "4º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, Penápolis, SP (1980); "Panorama de Escultura" , Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP (1981); "Um século de escultura no Brasil" , Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP, "Chapel Art Show", SP (1982, 1983, 1984, 1985); "Galeria Arte Aplicada, SP, Galeria Babelidus , SP, 1º Mostra de Arte "Sindicato ano Zero", Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, SP(1983); "Studio Compasso D'Oro" , SP, "A escultura ao alcance de todos", SP (1985); "Expo Brasil - Itália" , SP, "Mármores", Galeria de Arte Aplicada, SP, "Espaço Cultural Chap Chap, SP (1987).

Possui obras em diversas coleções particulares no Brasil e no Exterior, além de Acervo Artístico do Palácio 9 Julho e do Museu da Escultura ao Ar Livre, na Assembléia Legislativa de São Paulo.