Cansou!

Opinião
02/01/2006 17:15

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Em entrevista à revista Isto É Dinheiro, a escritora e cronista Danuza Leão, que acaba de lançar um livro de memórias, Quase tudo, que se tornou sucesso de crítica e de público, foi ao ponto: "Este foi o ano em que as pessoas se cansaram do presidente Lula". Segundo ela, "ninguém o agüenta mais, não dá mais para ouvir a voz dele ou ver sua figura na televisão. Cansou. Enjoou". O "ninguém" talvez seja um termo exagerado. Sempre há "alguém" a fim de suportar o insuportável, talvez por falta de senso crítico, talvez por miopia política. Ou " sabe-se lá " por mero masoquismo.

O fato é que, como bem observou o cientista político Paulo Moura, Danuza não está só. Eis um sentimento " o de absoluto cansaço em relação ao presidente da República " que parece ganhar musculatura a cada dia que passa. Não há de ser por acaso que, segundo as últimas pesquisas, a rejeição ao seu nome tem aumentado de forma célere. Até onde sei ainda não há estudos que quantifiquem o número de eleitores que não suportam mais a falação diária de Lula. É certo que, em breve, elas surgirão, revelando, inclusive, as causas da aversão.

Enquanto as pesquisas não vêm, me arrisco a enumerar alguns fatores que contribuem para esse desgaste. O primeiro deles é o excesso de exposição. Lula fala sem parar e sobre tudo, em especial sobre o que ele ignora solenemente. Parece não fazer outra coisa na vida, a não ser proferir discursos. E o que é pior: freqüentemente, entre o que ele fala e a realidade, há uma distância oceânica. Insistir na tese de que nada foi provado em relação ao esquema de corrupção denunciado pelo ex-deputado Roberto Jefferson e que vem sendo investigado no Congresso Nacional é uma agressão à inteligência alheia, tão violenta quanto a conversa mole de que nunca soube de nada e de que jamais criou dificuldades para a instalação das Comissões Parlamentares de Inquérito.

Acrescente-se a estas lorotas, o orgulho besta e indisfarçável que ele parece nutrir pela sua pouca instrução. É preciso ser muito arrogante e deslumbrado para se gabar da própria ignorância. Quem, em sã consciência, ainda que com muita boa vontade, pode levar a sério afirmações do tipo: de que ele, Lula, ensinaria a todos como se governa um país, de que ninguém em tempo algum fez tanto como ele pelo Brasil, de que convenceria os líderes estrangeiros a implantar em escala mundial o fracassado Fome Zero, de que lideraria um movimento para mudar a geografia econômica do mundo?

Claro que há outras razões para tamanha corrosão da imagem do presidente. As promessas não cumpridas são apenas uma delas. O fato é que Danuza tem razão. A cada dia, fica mais difícil ouvir seus discursos sem se irritar.

Milton Flávio é professor de Urologia da Unesp, deputado estadual pelo PSDB e vice-líder do governo na Assembléia Legislativa de São Paulo

miltonflavio@al.sp.gov.br

www.miltonflavio.org

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