Produtores prestigiam lançamento da Frente Parlamentar em Defesa da Citricultura


25/10/2007 10:54

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Perante uma platéia de aproximadamente 200 pessoas, composta principalmente por produtores agrícolas, foi constituída nesta quarta-feira, 24/10, a Frente Parlamentar em Defesa da Citricultura, uma iniciativa do deputado Davi Zaia (PPS), que conta com a participação de 41 dos 94 parlamentares da Assembléia Legislativa de São Paulo.

Estavam representados 45 municípios, em sua maioria por seus prefeitos e vereadores, além das principais entidades da cadeia produtiva da laranja, como a Associtrus - que congrega os produtores rurais, a Abecitrus, que representa as indústrias exportadoras de suco, a Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), a Sociedade Rural Brasileira, cooperativas e sindicatos rurais.

A cerimônia contou ainda com a presença do secretário adjunto estadual da Agricultura, Antonio Junqueira, dos deputados João Caramez (PSDB), Aloísio Vieira (PDT), presidente da Comissão de Agricultura e Pecuária da Assembléia Legislativa, Aldo Demarchi (DEM), Barros Munhoz , líder do governo, Roberto Massafera (PSDB), José Zico Prado e Cido Sério (ambos do PT), todos eles integrantes da frente.

O lançamento da Frente Parlamentar foi marcado pelas críticas dos produtores aos preços da laranja pagos pelas indústrias processadoras de sucos de laranja. Os mais prejudicados, segundo os representantes dos citricultores, são os pequenos produtores que estão endividados e arriscam perder as suas propriedades.

O deputado Davi Zaia, que agora passa a coordenar a Frente Parlamentar, disse que seria insensato deixar de defender a competitividade da laranja brasileira no mercado internacional, mas que "a mão invisível do mercado" necessita de controle para não prejudicar os pequenos citricultores. Filho de pequenos agricultores de Cordeirópolis, que já foram produtores de laranja, Zaia disse que é preciso defender quem produz para sustentar com dignidade as suas famílias.

Quanto à prevenção e combate das doenças que afetam os laranjais, que é outra preocupação dos citricultores, Zaia defendeu o papel dos centros de pesquisa, como o Instituto Agrícola de Campinas (IAC). Passada a fase de constituição da Frente Parlamentar, o deputado disse que o próximo passo é partir para ações concretas aprovadas nos encontros que serão promovidos com as entidades que participaram da cerimônia.

Algumas sugestões, como a da formação de uma agência reguladora para a agricultura e do fortalecimento de cooperativas de produtores para atuar no mercado interno, foram esboçadas na ocasião.

O líder do governo estadual na Assembléia Legislativa, deputado Barros Munhoz, que já foi secretário estadual e ministro da Agricultura, participou da cerimônia do início ao fim. Como parte de sua experiência no setor, ele disse que procurou na agricultura estabelecer apenas um lado, buscando sempre o equilíbrio entre produção e indústria, mas que no caso da citricultura, entre os dois lados, preferia ficar com os produtores.

Para o presidente da Associtrus, Flávio de Carvalho Viegas, o preço que está sendo pago pelas indústrias não está cobrindo os custos de produção de seus fornecedores. "O produtor vem perdendo renda nos últimos anos", afirma.

O coordenador de Citricultura da Faesp, Antonio Crestana, disse que a frente parlamentar simbolizava a parceria da Secretaria da Agricultura e dos deputados na defesa do setor. Crestana afirmou que o desenvolvimento sustentável da citricultura depende da lucratividade de toda a cadeia produtiva e não apenas de um setor. Ele contou que após muito esforço foi possível acertar um acordo com a indústria em torno de US$ 4 a caixa, quando a cotação da moeda americana estava em R$ 2,30, com a desvalorização do dólar para R$ 1,80, o preço da caixa de laranja, que era correspondente a R$ 9,20 caiu para R$ 7,20.

O presidente da Abecitrus, Ademerval Garcia, destacou a importância da citricultura paulista e a atuação da secretaria estadual da Agricultura e cobrou providências do governo federal no sentido de aperfeiçoar a fiscalização da entrada de produtos agrícolas vindos de outros estados para proteger as plantas das doenças que as afetam, como o greening, a mais recente ameaça às plantações de laranja no Estado.

O presidente da Sociedade Rural Brasileira, Cesário Ramalho da Silva, também manifestou sua preocupação com a desigualdade de preço na cadeia produtiva. Ele estima um "descasamento" entre custo e receita da ordem de 30%, entre 2000 e 2006, com o preço dos insumos se elevando em mais de 100%, em comparação com a receita agrícola que teve variação de 70%.

O prefeito de Valentin Gentil, Liberato Rocha Caldeira, criticou a legislação estadual de combate ao cancro cítrico que prejudica os pequenos citricultores, porque ela manda arrancar as plantas contaminadas mas não indeniza o agricultor. Representante da Associação dos Municípios do Oeste Paulista, ele defendeu alterações na lei e uma maior fiscalização para evitar que a doença seja trazida de fora do estado.

Uma das mais fortes críticas ao desequilíbrio dos preços da laranja partiu do prefeito de Cajobi, Dorival Sandrini, que também é citricultor. "Já trinquei, não quebrei", afirmou ele se referindo aos prejuízos que teve com a sua plantação. Forçado a hipotecar sua propriedade que vale R$ 8 milhões para receber R$ 200 mil, ele disse que a quantia "não dá nem para pagar o adubo", que utiliza.

Representante da Cooperativa Agrícola de Itápolis, o agricultor Reginaldo Vicentin disse que a saída para a crise e a dependência das indústrias encontrada pela entidade foi priorizar o mercado interno, ao contrário das indústrias que se preparam para competir em outros países.

dzaia@al.sp.gov.br

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