Arremedo de JK

Opinião
11/01/2006 17:12

Compartilhar:


Não se trata, evidentemente, de fazer a crítica pela crítica. Até porque ninguém, em pleno gozo das faculdades mentais, pode ser favorável à manutenção do estado de calamidade em que se encontram as estradas federais. Também se compreende que todo governante procure entregar o maior número possível de obras ao longo de sua gestão e, em especial, no último ano de mandato. Não haveria de ser diferente com Luís Inácio Lula da Silva, que já se declarou "um homem sem pecados", muito embora a soberba (um dos sete pecados capitais) e a absoluta falta de senso crítico o levem a imaginar que nada existiu antes dele, o homem inaugural.

Como se recorda, ele já tentou se comparar a JK e a Getúlio Vargas. Deste, parece querer herdar o título de "pai dos pobres". Não por acaso, ele procura fazer o estardalhaço possível com o programa Bolsa-Família, ainda que seu governo não tenha nenhuma preocupação em livrar os mais carentes da dependência eterna das verbas oficiais. A exemplo de JK, sonha com entrar para a história como grande empreendedor, muita embora nos últimos três anos o país tenha crescido bem menos que os demais países emergentes. Daí, o seu interesse em abrir os cofres e partir para a improvisação total.

A miséria é que o governo sob sua direção prima pela obesidade mórbida e pela ausência completa de planejamento. Basta verificar o número de ministérios, secretarias especiais e comissões disso e daquilo e o aumento brutal dos cargos de confiança. Não é preciso ser especialista em políticas públicas para constatar que a improvisação e o marketing festivo são as principais marcas da administração federal. O presidente fala sem parar sobre o que lhe dá na telha. Não hesita em usar números falsos, como os que se referem à criação, nos últimos três anos, de supostos 3,5 milhões de empregos formais, com carteira assinada. O professor José Pastore, da USP, um dos maiores especialistas no tema, já deixou claro que a história é bem outra. Se cortarmos os números apresentados pelo governo, a história fica no seu real tamanho. Nada esplêndido para quem prometeu criar dez milhões de novos postos de trabalho em quatro anos.

O caráter empreendedor de Lula e do PT está saindo caro aos brasileiros. Com a pompa e a circunstância de sempre, o governo vai gastar cerca de R$ 450 milhões nos próximos meses para tapar alguns buracos nas estradas. O ministro dos Transportes já deixou claro que os remendos não vão durar mais de um ano. É de se perguntar, portanto, por que o governo de Lula da Silva investiu quase nada nos últimos três anos, se tinha a lhe encher os cofres um dinheiro expressivo, resultante da cobrança da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico " a CIDE, criada, em 2002, justamente para melhorar a condição de tráfego nas estradas brasileiras.

Pena que falação e improviso não sejam as principais marcas deste governo. Há outras bem mais cabeludas, como se sabe.

Milton Flávio (PSDB) é professor de Medicina na UNESP, deputado estadual e vice-líder do governo na Assembléia Legislativa de São Paulo

www.miltonflavio.org

miltonflavio@al.sp.gov.br

alesp