Opinião - Caos na Educação


09/02/2010 15:59

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Causou grande repercussão a notícia de que o governo Serra vai "usar" professores "reprovados" em seu processo seletivo. Lamentavelmente, a discussão mantém-se na superficialidade, como se o fato de "reprovados" darem aulas na rede estadual de ensino não fosse apenas a ponta de um iceberg.

Mais uma vez, aponta-se o dedo contra os professores, sem que haja a necessária discussão sobre a incompetência dos gestores. Em uma década e meia de PSDB e aliados no comando do Estado de São Paulo, a educação paulista vai de mal a pior. A prova humilhante aplicada aos educadores, e suas consequências, é mais um item no caos que envolve o setor em nosso Estado.

Alguns fatos precisam ser analisados e perguntas pairam no ar. Afinal, qual a legitimidade e a qualidade da prova? Quais as ações de governo para a formação continuada dos professores? Que motivação e oportunidade os educadores têm para se qualificar? Que condições foram oferecidas para melhor ensinar e aprender?

Mais ainda: por que o governo paulista mantém cerca de 100 mil professores em situação precária de contratação? Por que é protelada a realização de concurso para preencher os mais de 60 mil cargos de professor que a Assembleia Legislativa aprovou? Qual o projeto educacional para o Estado? Por que São Paulo continua sem um Plano Estadual de Educação? Por que, depois de tantos anos de governo do mesmo grupo, a educação se encontra em situação tão precária?

Em vários países do mundo, a carreira de professor figura entre as de maior prestígio. São países que remuneram dignamente o professor, oferecem condições de trabalho estimulantes, proporcionam vantagens profissionais e apontam horizontes de crescimento. A fórmula é simples, mas o contrário de tudo isso é o que se tem na gestão Serra e nas antecedentes.

É urgente que seja assegurado o protagonismo do profissional da educação, com sua valorização, formação continuada, plano de carreira e condições adequadas de trabalho. É indispensável oferecer as condições para o conhecimento didático e o controle das ferramentas pedagógicas sejam construídos ao longo da vida profissional.

A qualidade social da Educação deve ser resgatada, com a garantia da aprendizagem e o reconhecimento, também, do papel do aluno no processo de construção do conhecimento.

Joga-se sobre os educadores a culpa de tudo o que vai mal, mas na raiz dos desacertos está o autoritarismo descarado, que impede a construção coletiva da qualidade do ensino, com a participação de educadores, educandos, pais e comunidade. As profundas mudanças necessárias devem ir muito além de provões aplicados aos professores e de pirotecnias com as quais se desvia o foco da questão essencial.

Não dá mais para adiar a realização de amplo processo de debate sobre a educação no Estado de São Paulo. É preciso, dar um basta às "soluções" mágicas e às medidas midiáticas.

A transformação deve começar com a construção de processos democráticos de discussão e decisão. Que estes sejam pontos essenciais de uma mudança radical na educação paulista.



* Maria Lúcia Prandi é educadora, deputada estadual pelo PT e mestre em ciências sociais.

alesp