DA "REDENTORA" À REDENÇÃO - OPINIÃO

Milton Flávio*
14/03/2001 14:24

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Há 37 anos, os militares brasileiros tomaram o poder. A "Redentora", como ficou conhecida a revolução de 31 de março de 1964, tinha por objetivo livrar o Brasil do comunismo e promover o seu desenvolvimento. Em nome disso, fez-se toda a sorte de barbaridades: fechou-se o Congresso, políticos honrados foram cassados, instalou-se a censura, e muita gente morreu por "afogamento" ou padeceu no pau-de-arara. Durante algum tempo, parte da sociedade - por desinformação, medo ou conveniência - fechou os olhos e se deixou embalar pelo sonho do "milagre econômico".

De lá para cá, o país mudou muito, e, seguramente, para melhor, tanto do ponto de vista político, como do ponto de vista econômico e social. Nesse período, tivemos onze presidentes da República, dezessete ministros da Fazenda e uma penca de pacotes econômicos, todos editados com a mesma intenção precípua: dar um basta na famigerada inflação. Os mais jovens talvez não saibam, mas não faz muito tempo era "normal" que os preços subissem 20, 30 ou 40% ao mês. Chegamos a ter uma inflação mensal de mais de 70%. Um verdadeiro caos.

É desnecessário dizer que uma inflação dessa ordem inviabiliza todo e qualquer planejamento, seja ele familiar, empresarial ou governamental. Os orçamentos públicos foram transformados em peças de ficção. Parte do empresariado nacional, movida pelo lucro fácil da ciranda financeira e sem ter que enfrentar a concorrência de produtos estrangeiros, se limitava a produzir umas porcarias muito caras. Quem pagava a maior fatia da conta, claro, era o povão, que nem talão de cheque tinha.

Foi justamente por domar a inflação que o Plano Real teve um papel decisivo na eleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1994, e na sua reeleição quatro anos depois. Hoje, por diversos fatores, o plano já não goza da mesma popularidade de quase sete anos atrás. E é natural que assim seja. A sociedade reivindica também maior crescimento econômico, mais emprego, melhor distribuição de renda e a adoção de uma série de políticas sociais para fazer frente à pobreza.

Todas essas reivindicações são justas. O governo tem-se empenhado - e os indicadores sócio-econômicos mostram isso - no sentido de atendê-las. É preciso ter claro, no entanto, que não há desenvolvimento real sem a estabilidade dos preços, condição básica para bem-estar social. Pesquisas recentes mostram que a sociedade está consciente disso. Prova de que não há mais espaço para "redentores" e populistas. Menos mal.

*Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB e líder do governo na Assembléia Legislativa.

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