Opinião - Descarrilamento à vista


20/03/2012 14:04

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É assim que vejo o que acontece com o trem de alta velocidade (TAV), popularmente conhecido como "trem-bala". Até agora, mesmo com tantos apoios declarados, ele não ganhou a velocidade esperada por parte dos seus maquinistas na União. Projeto anunciado, valores atualizados a cada instante, mas, pela falta de propósito de uso, continua ainda com uma "maria fumaça" para puxar os carros.

Qual o benefício que o TAV trará para o transporte público de São Paulo? Constantemente nos telejornais vemos o sofrimento do cidadão para utilizar o serviço público de transporte de massa. Um absurdo pensar na grandeza de uma obra faraônica sem se preocupar com a verdadeira urgência para a população. Muito mais prático e viável investir em trens como o expresso Jundiaí"São Paulo. Trem de média velocidade e que cumpre o propósito de economia para o bolso do trabalhador e também na redução do tempo da viagem.

Analisando o TAV com os pés ainda na "estação", não trará nenhum benefício. Ele não será acessível à população por causa de uma tarifa que em valores de hoje estaria na casa dos R$ 30. Fato que me preocupa quando não se fazem obras e projetos para a classe trabalhadora, afinal somos eleitos para representar os anseios do bem comum e não o interesse de um grupo.

Somada a essas questões básicas, o TAV esbarra no tempo que levará para a maturação do projeto, o licenciamento ambiental, indefinições com relação ao traçado, se haverá estação em Jundiaí ou não, sem contar a espera para início da obra e quem sabe da operação somente em 2020. Enquanto isso ficamos com o transporte de massa cada vez mais caótico.

Estamos a 30 quilômetros de Viracopos, a 50 quilômetros de São Paulo, a 60 quilômetros do Aeroporto de Congonhas, com toda dificuldade de trânsito. Para que esse trem-bala? Ele é útil? Talvez seja utilíssimo para o futuro. Esqueçam esse trem-bala agora! Mais para a frente poderemos fazê-lo. Não podemos viver dessa enganação. A quem ele vai beneficiar, meu Deus do céu? Quem vai vir do Rio, de São José, vai parar no Campo de Marte. Hoje, na rodoviária de Jundiaí, o pessoal que vai para Minas toma ônibus lá, assim como o pessoal que vai para o Paraná, para Mato Grosso, porque é muito mais fácil do que aqui em São Paulo.

Em artigo do ex-governador e ex-ministro dos Transportes Alberto Goldman, publicado na Folha de S. Paulo em 6 de maio de 2011, ele destaca que "os Estados e municípios do país não têm condições financeiras e nem sempre têm competência legal para enfrentar esse enorme desafio". Na mesma seara, o economista Maílson da Nóbrega escreveu na revista Veja em 4 de maio que "o trem-bala pode justificar-se no futuro, depois de atendidas outras prioridades de investimento em infraestrutura, como a do transporte de massa. Agora, parece um mero e caro capricho. Só os defensores da sua execução não enxergam estes detalhes".

A soberba de poucos pode custar caro ao Brasil com o atraso do desenvolvimento de regiões promissoras como a de Jundiaí, a exemplo da Copa do Mundo e da Olimpíada. Para que se não temos condições estruturais, conforme frisado pelo jornalista Roberto Pompeu de Toledo na Veja, também de 4 de maio. "Por que não desistir da Copa do Mundo? Não seria a primeira vez. A Colômbia, escolhida para sediar a Copa de 1986, jogou a toalha três anos antes, e o torneio mudou para o México". O Brasil tem outras urgências e a mobilidade urbana ocupa o primeiro lugar. Não podemos ser uma nação de futilidades. Sou contra o trem-bala, e como diria o saudoso Mário Covas: "Fazer o que tem que ser feito pelo bem comum da população".



*Ary Fossen é economista, ex-prefeito de Jundiaí (2005-2008) e deputado estadual pelo PSDB em sua terceira legislatura.

alesp