Um ano difícil de terminar

OPINIÃO - Arnaldo Jardim*
22/12/2003 16:20

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Todo final de ano é um período em que normalmente ouvimos das pessoas expressões do tipo: "Esse ano voou", "Passou e não percebemos". Normalmente se ouve isto, mas não foi o que aconteceu neste final de 2003.

As expressões mais ouvidas são, infelizmente, de outra natureza: "Este ano precisa terminar logo", "Precisamos de um novo ano", "Ainda bem que 2003 está terminando". Tudo isso tem a ver com o fato de que andamos "de lado". O ano de 2003 registra crescimento pífio da nossa economia. Só não foi totalmente desastroso por conta do agronegócio, que obteve resultados notáveis devido ao aumento das exportações.

Do lado os indicadores sociais, vivemos uma situação difícil, particularmente devido à questão da segurança e da concentração de renda aliada ao processo de deterioração do poder aquisitivo.

O ano de 2003 registrou o incremento da desigualdade social. Foi um período de concentração de renda, um período de diminuição do número de postos de trabalho. Um período em que as boas notícias se restringiram ao que não ocorreu, ou seja, o temor de que a situação poderia desandar mais no plano econômico se o governo Lula tivesse alterado radicalmente a política econômica.

Não foi isso que aconteceu. Aliás, foi o contrário. O erro cometido pela nova administração neste ano foi exatamente persistir e até aprofundar a política econômica anterior, deixando um gosto amargo de continuidade.

A manutenção do acordo com o FMI simbolizada, particularmente, pela manutenção do superávit em 4,25%. Desdobrou-se ainda numa proposta de reforma tributária que, na prática, significou o incremento da carga tributária pura e simples - fato que levou a diluir o efeito positivo que a reforma da Previdência poderia trazer.

Neste ano, os acontecimentos econômicos e sociais foram tenebrosos. Mais que isso, no intuito de tentar promover a estabilização, o governo deixou para segundo plano o processo de distribuição de renda. E eu, mais do que nunca, estou convencido de que não haverá crescimento sustentável se nós não tivermos uma distribuição mais justa e o aumento do poder aquisitivo da população.

Até o processo de aquecimento econômico, se não tiver correlação com um incremento do mercado interno, não poderá se sustentar. Esta é uma questão básica que envolve os indicadores sociais. Os pontos mais preocupantes são a segurança e a educação. O primeiro, com o compromisso com as necessidades imediatas por uma questão de sobrevivência. O segundo, como um instrumento único para poder efetivamente fazer com que o processo de desigualdade comece a ser eliminado da nossa sociedade. Afinal, se queremos um futuro melhor para o Brasil, precisamos educar bem a nossa juventude, prepará-la para o trabalho e assim termos base humana para um crescimento sustentado.

*Arnaldo Jardim é deputado estadual, engenheiro Civil e líder da Bancada do PPS na Assembléia Legislativa.

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