"UM EXEMPLO A SER SEGUIDO" - OPINIÃO

Antonio Duarte Nogueira Júnior*
08/03/2001 14:52

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Nos primeiros dias de seu governo, quando o Estado não tinha dinheiro nem para pagar o combustível dos carros oficiais, o recado do governador Mário Covas a seu secretariado foi claro: "posso queimar todo o meu capital político, mas coloco esse troço para andar". Foi, de fato, a última coisa que fez.

Tive a oportunidade de ser seu secretário da Habitação e acompanhei os primeiros 17 meses de governo, época difícil em que São Paulo trazia em sua contabilidade R$ 40 bilhões de dívida pública, R$ 700 milhões por mês de juros e amortizações e outros R$ 1,6 bilhão de restos a pagar.

Nem por isso, Covas era menos exigente. Orquestrou medidas severas de contenção de gastos, nunca vistas na história paulista, mas que eram típicas de um político comprometido com sua vida pública. Cassado pelo regime militar, passou dez anos com os direitos políticos cassados, saiu do ostracismo e continuou disputando eleições. Foi o senador mais votado da história e se reelegeu ao governo paulista em 98 com 10 milhões de votos. Perdeu outras disputas, mas resistia em dizer que a derrota era uma perda. "A gente sempre ganha quando disputa", dizia.

E à frente do governo, foi saneando São Paulo. Amargou altos índices de impopularidade por ter de demitir, privatizar empresas estatais, paralisar investimentos e cortar gastos. Avesso à bajulação hipócrita da política, foi tocando adiante sem olhar para trás, "trocando os pneus com o carro andando", como costumava dizer. Se transformou em uma referência de austeridade, de competência administrativa e um dos nomes mais fortes para disputar a presidência da República.

Infelizmente, está fora da disputa, mas seu currículo não precisou desse cargo para se tornar brilhante. Deixou uma grande lição de vida ao tratar de sua doença publicamente e transmitiu ânimo e força aos que lutam contra o mesmo mal, contra os males menores e mesmo para aqueles para quem a vida não faz mais sentido. Chorou numa coletiva ao dizer uma frase que vai ficar para sempre: "quem ganha o principal, não pode discutir o acessório", referindo-se à bolsa plástica que se transformou numa extensão do seu intestino.

Desde que se licenciou do governo para tratar de sua saúde, Covas tinha consciência de que estava fazendo história. Visitava as obras em andamento, comparecia às inaugurações mesmo estando licenciado do cargo, iniciou a discussão sobre a sucessão presidencial e acompanhava o fluxo de caixa do Estado todos os dias. Sabia que estava indo, mas com sua missão cumprida. São Paulo hoje voltou a ser um Estado forte e com capacidade de investimento, a democracia está consolidada e a economia brasileira encontrou a estabilidade.

Infelizmente, o governador Mário Covas partiu, mas deixou muito de si mesmo. Fez com que sentíssemos orgulho de sermos paulistas. E quem fez tanto pela sua gente, vai ser sempre lembrado em suas obras, exemplos e lições de vida.



Antonio Duarte Nogueira Júnior, 36, é engenheiro agrônomo, deputado estadual, vice-líder do governo na Assembléia Legislativa e vice-presidente do PSDB de São Paulo. Foi secretário de Estado da Habitação no governo Covas (95/96)

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