Dengue é tema de encontro entre deputados e autoridades de saúde


01/03/2010 20:49

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A Comissão de Higiene e Saúde da Assembléia Legislativa estará reunida nesta terça-feira, dia 2/3, com as autoridades estaduais de saúde para conhecer as medidas de prevenção adotadas contra a dengue e a gripe A H1N1 no Estado de São Paulo. Para o encontro, sugerido pelo deputado estadual Fausto Figueira (PT), que preside comissão, foram convidados o secretário estadual de saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, o superintendente da Sucen, Affonso Viviani Junior, a diretora do Instituto Adolfo Lutz, Marta Lopes Salomão, e a presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado, Maria do Carmo Cabral Carpintéro.

A reunião será às 14h30 no Plenário José Bonifácio da Assembléia Legislativa. A gripe A H1N1 foi incluída na pauta por sugestão de deputado João Barbosa (DEM).

Buscando maiores informações sobre a doença, que ameaça se tornar epidemia na região e já fez três vítimas fatais somente em Santos, Fausto Figueira reuniu-se na semana passada com o médico infectologista Marcos Caseiro, estudioso no assunto. Caseiro revelou dados bastante preocupantes. Um deles é que para cada uma pessoa com sintomas da dengue, há outras nove assintomáticas. E mais: a sorologia é o único exame considerado pela Vigilância Epidemiológica para notificação da dengue, mas ele somente é feito 10 dias depois do aparecimento dos primeiros sintomas. Ou seja, com os sintomas já atenuados, a maioria das pessoas não retorna à unidade de saúde nesse período para fazer a sorologia, o que torna os números oficiais da doença altamente questionáveis.

Para o infectologista, a atual explosão de dengue é a típica situação de relaxamento com a questão vetorial, função que compete à Sucen (Superintendência de Controle de Endemias), ligada ao boverno de São Paulo. "Nos dois últimos anos tivemos poucos casos de dengue na Baixada Santista: em 2008, 490 casos, e em 2009, 340. Mas não houve cuidado com o vetor e está claro que é preciso trabalhar o combate ao mosquito, até porque a dengue não dá para isolar, não tem vacina". Segundo o médico, a dificuldade de se produzir vacina contra dengue é que um sorotipo predomina sobre os outros, fazendo com que a imunização ocorra para uma só modalidade.

Quando um indivíduo contrai a doença por um sorotipo (dos quatro existentes), fica imunizado apenas contra ele, podendo ser novamente infectado por outro sorotipo. Se isso ocorre, as chances de desenvolver dengue hemorrágica aumenta em 5%, além de outras complicações, como alterações neurológicas. "O grande problema é que a dengue está mais mórbida, nunca vi tantos casos de dengue hemorrágica como está ocorrendo este ano", disse o infectologista, motivo pelo qual acredita que o número de infectados seja muito superior ao que vem sendo divulgado.

"As pessoas não voltam 10 dias depois para fazer a sorologia, por isso o critério para notificação tem que ser clínico e não sorológico. Chegou na unidade de atendimento com sintomas de dengue, se notifica. É a forma de ter o dado em tempo real, saber a verdadeira dimensão da doença".

Caseiro informou que apesar de ter a possibilidade de sobrevôo de até 500 metros, o Aedes aegypti, transmissor da dengue, voa em média 30 metros, o que cria as condições de um combate efetivo, cercando a dengue dentro da área do município.

Segundo ele, o fumacê, caminhão que vaporiza veneno pelas ruas, só é indicado em locais de grande infestação de mosquito. "Ele só serve para matar inseto adulto, não tem efeito residual, não mata larva. O mosquito é domiciliar, mas os focos estão também nas bocas de lobo, principalmente de água pluvial. Tem que ter vigilância persistente, diária, de foco em foco". O médico conta que foi essa a estratégia de combate que eliminou o mosquito do Brasil por duas vezes: nas décadas de 30 e 50.

Caseiro contou ainda que o ritmo das chuvas é menos importante que a temperatura. O ciclo completo do mosquito, entre a larva e a fase adulta, acontece em apenas 7 dias e o mosquito vive um mês. Nesse

período a fêmea coloca até 100 ovos.

Hoje, no Brasil, circulam os subtipos 1, 2 e 3. O tipo 4 apareceu no início da década de 80 em Roraima, vindo da Venezuela, sendo eliminado no próprio Estado. Em 1986, uma grande epidemia registrou cerca de 32.500 casos no Rio de Janeiro. Em Santos, foram mais de 11.300 contaminados em 2001, pelos sorotipos 1 e 2. Em 2002, com mais 10.300 infectados, aparece o sorotipo 3. "Agora, ninguém informa qual o sorotipo em circulação". As crianças, principalmente, estão bastante vulneráveis, pois a maioria nunca teve contato com o agente causador e não está imunizada.

ffigueira@al.sp.gov.br

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