QUANDO O POLICIAL É HERÓI - OPINIÃO

Afanasio Jazadji*
17/10/2000 16:47

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Um soldado da Polícia Militar paulista salvou a vida de um menino de 7 anos que tinha sido mantido como refém e evitou uma tragédia, na cidade de Franca. O episódio aconteceu no fim de setembro e serve de exemplo para demonstrar que nossa polícia, apesar de mal-gerenciada, tem homens corajosos e eficientes. Em Franca, a 400 quilômetros da Capital, o sapateiro Valdecir Ferreira de Assis, de 35 anos, queria se suicidar, mas não tinha um revólver: então, comprou uma faca, foi até o terminal rodoviário da cidade, tomou como refém um menino de 7 anos e exigiu que o soldado PM Reginaldo Aparecido dos Reis lhe entregasse seu revólver. O sapateiro ameaçava cortar o pescoço do garoto com a faca se o PM não lhe desse o revólver, com o qual aparentemente pretendia cometer suicídio. Com muito jeito, o PM Reginaldo dialogou com o seqüestrador por alguns minutos e, enquanto isso, ocultava sua arma nas costas, aproveitando para retirar todas as balas: a arma, já descarregada, foi entregue ao sapateiro. O policial então dominou o candidato ao suicídio e libertou o garoto. A segunda etapa do ato heróico do soldado Reginaldo foi enfrentar a fúria de mais de 100 pessoas, que, no terminal, pretendiam linchar o sapateiro. O seqüestrador foi levado para a cadeia. Esse caso mostra que, diante de tantos seqüestros que ocorrem no Estado de São Paulo, a polícia tem de ser mesmo firme. Outra lição que fica é o heroísmo de alguns policiais, como o PM Reginaldo: ganham pouco, são mal-liderados, mas sabem como agir. É um problema grave do governo Mário Covas: a falta de estímulo aos policiais competentes e honestos de nosso Estado. Apesar disso, existem os heróis anônimos, que vêm lutando diariamente contra o crime, expondo suas vidas, arriscando seguir o caminho de tantos PMs que foram mortos por bandidos e hoje não passam de nomes de placas de bronze colocadas no mausoléu da corporação no Cemitério do Araçá, na Capital. Nunca o tema da Segurança Pública havia sido tão comentado em campanhas eleitorais como nessas das eleições municipais de 1.º de outubro. A situação do combate à violência e à criminalidade por parte do Governo do Estado é tão precária, que a base da propaganda de uma grande parte dos candidatos a prefeito em todas as regiões ficou por conta de promessas de maior segurança. O Interior e o Litoral vivem uma sensação parecida com a dos moradores da Capital, de que o perigo é constante. Multiplicam-se os casos de roubos, seqüestros e homicídios. As Polícias Civil e Militar confessam suas limitações para combater o crime. Enquanto isso, o governador Covas, de modo demagógico, anuncia que está entregando novas viaturas para as duas Polícias. Esse comportamento não deixa de ser estranho: uma vez que o próprio Covas havia defendido a cobrança de uma taxa mensal de R$ 2,50 dos proprietários de telefones "para reequipar as Polícias" e essa idéia foi deixada de lado, diante da rejeição pela população, de onde surgiu o dinheiro para as viaturas? Além disso, o governador deveria pensar melhor não só em equipamento, mas em material humano: é preciso parar de maltratar os bons policiais. Eles merecem salários melhores.

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