A Luz e as Trevas, em praticamente todas as culturas, são símbolos bem nítidos do positivo e do negativo, do bem e do mal. A AES-Eletropaulo transformou-se, com sua decisão de cortar o fornecimento de energia para alguns setores da Prefeitura de São Paulo, de uma fornecedora de luz em uma concessionária das trevas. Ficou no ar que a hipótese do gênio do mal inspirador desta decisão habita o BNDES, órgão do governo federal que detém 49% das ações da empresa.A suspeita de que houve uma pressão subterrânea do BNDES para forçar a AES-Eletropaulo a tomar esta atitude, inusitada e arbitrária, é inquietante para todos. A principal vítima, como sempre, é a população, que não pode contar com os serviços públicos de diversas repartições, inclusive das Unidades Básicas de Saúde.Por si só, a atitude arbitrária da empresa demonstra profunda falta da responsabilidade social que se espera de uma concessionária de serviço público. Não é admissível que a "retaliação" da AES-Eletropaulo vise atingir os cidadãos, prejudicando-os em seus direitos fundamentais e fazendo cessar serviços essenciais. Ainda mais quando esta comunidade é credora da AES com relação ao Cosip " taxa cobrada de todos os cidadãos para a iluminação pública e que deveria ter sido repassada à prefeitura, mas vem sendo retida pela empresa. Esta retenção, por sinal, é um dos principais motivos da Prefeitura não ter chegado a um acordo sobre a dívida anterior.Como agravante, certamente nenhuma empresa privada trataria com rigor desmesurado o seu principal cliente, responsável por significativa fatia de seu faturamento, em um momento de dificuldade. Ainda mais quando se está há menos de três meses sob uma nova administração que tem como uma de suas grandes metas justamente o saneamento financeiro e a redução dos déficits e dívidas.A isto deve-se acrescer o fato de tal comportamento sequer ter precedentes, já que na administração anterior períodos muito superiores de atraso jamais foram penalizados da mesma forma brutal. As razões para este tratamento diferenciado fogem à compreensão de qualquer lógica, já que não faz sentido algum comparar uma administração que passou quatro anos sendo inadimplente contumaz com outra que mal tomou pé da situação e manifestou sua vontade de saldar o débito, tendo a seu favor ainda, os repasses do Cosip não realizados.Parece faltar, desta forma, uma explicação razoável para a inusitada ação da empresa. E a suspeita levantada pela Prefeitura " de interferência do BNDES " fornece um motivo que parece mais plausível que qualquer outro: os objetivos politico-partidários do PT. Note-se que o banco, reduto de petistas extremados, é detentor de 49% das ações da empresa, o que lhe confere notável poder de fogo e pressão sobre a AES.Independente da suspeita ser fundada ou não, certamente não parece racional que a AES-Eletropaulo tomasse uma atitude tão radical, que compromete tanto a imagem da empresa, sem que seu principal acionista fosse sequer consultado, fosse ele quem fosse. Mais estranho ainda se este acionista fosse um órgão governamental, ainda que de outra esfera. Será que nenhum executivo da empresa ouviu as muitas propagandas do PT - curiosa confusão governo-partido - anunciando que o BNDES tem a intenção de ajudar São Paulo e nem por um instante imaginou que tal declaração por parte de um acionista da empresa tão significativo deveria ser consultado sobre uma decisão que afronta diretamente uma declaração pública?A suspeita fortalece-se quando se examina a ação do PT ao longo de sua história e se verifica que esta utiliza muito comumente o poder do Estado em benefício de seu partido e de seus objetivos eleitorais. Mas me custa acreditar que esta manipulação do poder em proveito próprio chegaria a tal ponto e não hesitaria antes de prejudicar uma parcela tão grande da população em uma empreitada tão desprovida de ética que certamente chocaria até a Maquiavel. Até mesmo para quem semeia trevas há limites, assim, se espera uma severa repreensão do BNDES contra a empresa de forma a não perdurarem as suspeitas de que ação tão tenebrosa partiu justamente de sua cúpula. Também se espera que o PT seja coerente e, no mínimo, reivindique à AES-Eletropaulo uma isonomia em relação ao tratamento que era dado à administração anterior.* Milton Flávio é médico e deputado estadual pelo PSDB de São Paulo.