A regionalização da saúde que queremos

OPINIÃO - Padre Afonso Lobato*
10/12/2003 16:40

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Durante todo este ano um dos temas que se manteve em destaque foi a regionalização da saúde. Este seria um dos aspectos que levaria pelo menos à diminuição da crise no setor.

Porém, o ano de 2003 está chegando ao fim e a sensação que fica é de frustração e impotência. Demos passos muito pequenos e infelizmente continuamos vendo, principalmente a população mais humilde, muitas vezes pagando com suas vidas os erros e falta de verba para o setor.

Na nossa região discutimos o ano inteiro sobre transformar ou não o Hosic (Hospital Santa Isabel de Clínicas de Taubaté) em um hospital regional, o que ressalte-se, já ocorre de fato.

O Governo do Estado está discutindo a desapropriação com a provedoria do hospital . Na última conversa que tive com o governador tratamos longamente do assunto e solicitei que o Estado fosse mais ágil, pois a situação está insustentável. O governador ligou para o secretário da Saúde e pediu que este procurasse agilizar a situação. Pelo que tudo indica, será uma desapropriação amigável e o Hospital Bandeirantes é o cotado para assumir o Hosic.

Entendemos porém que a aquisição do Hosic pelo Governo do Estado é apenas o início do processo. A regionalização da saúde que queremos é muito mais ampla, com o aproveitamento mais racional dos recursos para diminuir os custos tanto do governo quanto dos hospitais que fazem atendimento particular. Queremos a verdadeira cooperação entre as cidades para que não recaia todo o ônus apenas sobre um município.

Uma regionalização, para funcionar de verdade, precisaria que cada município tivesse um Pronto Socorro, equipe para fazer partos e cirurgias simples. As cidades maiores deveriam ter tomógrafos e UTIs e apenas nos casos de cirurgias e tratamentos mais complexos, os pacientes deveriam ser encaminhados para Taubaté. Porém, o que ocorre hoje, é que muitas cidades preferem não ter UTI por causa do alto custo da manutenção.

Ou seja, caímos sempre no mesmo problema da falta de verba, pois o Governo Federal destinou neste ano R$ 30 bilhões para a Saúde, o que significa míseros R$ 230,00 por pessoa por ano em média no atendimento público.

Ora, com esta carência generalizada de recursos, só nos resta criatividade e bom senso, e isso se chama prevenção. Ou seja, é adotando de verdade o Programa de Saúde da Família (PSF), é cuidando da saúde e não tratando a doença que conseguiremos um dia sair desta situação. É preciso uma visão multidisciplinar que envolva também a educação e as questões ambientais.

Em 2004 vamos trabalhar firme para que esta visão finalmente impregne todas as esferas dos governos. Afinal de contas, a saúde é um direito universal e não apenas daqueles que podem pagar pelo atendimento.

*Padre Afonso Lobato é deputado Estadual pelo PV

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