Um governo do futuro

OPINIÃO - Vaz de Lima*
28/04/2004 14:49

Compartilhar:


Passado um terço de seu mandato à frente do governo federal, o PT demonstra ser um partido com os olhos no futuro. Infelizmente não da forma que se esperava de um estadista - ou seja, preocupando-se com as repercussões de seus discursos e ações - mas porque só é capaz de acenar com o futuro, já que nada tem a apresentar no presente.

A cada discurso, o presidente joga mais para frente as suas reiteradas e impossíveis promessas. Nos palanques da eleição presidencial ele dizia que bastava elegê-lo para acabar com as mazelas do país, da fome à corrupção, passando pela educação e saneamento básico, além, é claro, das onipresentes promessas de gerar empregos. Quem se lembra de Lula visitando o alto sertão nordestino na primeira quinzena de governo e anunciando os ministros já nomeados e empossados como se fossem apenas candidatos, se lembrará que a transição do palanque ao governo não deixou de causar uma certa dissonância cognitiva no imaginário petista.

Nos primeiros seis meses do ano passado, as promessas foram deslocadas para o semestre seguinte, uma vez que naquele início de governo era necessário "colocar a casa em ordem". O mesmo Lula que prometia "trocar os pneus com o carro andando" na campanha reconhece que teria de fazer uma recauchutagem em seu programa de governo.

Passou o primeiro semestre, não foi mais possível esconder o pífio crescimento de 0,2% e as promessas de mudanças foram transferidas para o próximo ano, este sim a data do início do espetáculo do crescimento. A construção de um orçamento feito à sua imagem e semelhança - justamente uma das razões alegadas para mais este adiamento - demonstrou a quem quis ver que, pelo contrário, o que viria no próximo ano seria o crescimento do espetáculo, com redução das verbas de investimento, aumento dos percentuais destinados a gerar superávit primário e, claro, da verba publicitária.

Verba publicitária que até tentou provar que houve uma improvável mudança. Quem sabe a iniciativa até não tivesse dado resultados se a propaganda não tivesse de ser tirada do ar porque anunciava coisas que não existiam senão na imaginação dos áulicos do presidente. A grande campanha publicitária planejada teve de se contentar em anunciar que o presidente acabou com alguns mosquitos a mais do que o esperado.

Passados os três primeiros meses do ano, chegou-se ao primeiro terço do governo e nada de novo ocorre. O presidente se indigna com aqueles que têm a ousadia de cobrar dele as promessas feitas no período eleitoral e avisa que, ao contrário do que anunciaram seus marqueteiros no horário eleitoral, ele não é nenhuma divindade capaz de dar jeito no país.

Agora o futuro já começa a se colocar em um horizonte ainda mais distante. Quem observa os discursos presidenciais verá que agora só fala em coisas que serão feitas "até o final do mandato". Nem será surpresa para ninguém se Lula chegar ao final do mandato dizendo que precisará de mais quatro anos para fazer aquilo que ele prometia fazer em algumas poucas semanas.

*Vaz de Lima é líder da bancada do PSDB na Assembléia Legislativa e presidente da Comissão Parlamentar de Acompanhamento da Reforma Tributária do legislativo paulista.

alesp