Faça o que eu mando, não faça o que eu faço

Opinião
21/11/2005 19:07

Compartilhar:

 <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/RomeuTumaJr.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A distância entre o discurso e a prática do governador Geraldo Alckmin é infinitamente maior que os quilômetros que separam o Palácio dos Bandeirantes, onde mora atualmente, do Palácio da Alvorada, local que planeja viver a partir de 2007. O comportamento dos tucanos e aliados em São Paulo é muito diferente em relação aos de Brasília. Algo que não pode ser atribuído apenas ao fato de aqui serem situação e lá, oposição. Independentemente das duas condições, é necessária uma qualidade que eles parecem não entender: a coerência.

Basta uma leitura rápida dos jornais do dia para perceber as distorções de comportamento em diferentes frentes. Vamos aos fatos: em São Paulo, o governador e sua base fazem de tudo para que nenhuma emenda tramite na área orçamentária. No entanto, não faltam supostas boas idéias para melhorar os cofres da União e dos contribuintes. Por mais que reduza impostos de determinados produtos, o governo paulista evita, de todas as formas possíveis e imagináveis, que questões orçamentárias entrem em discussão na Assembléia Legislativa.

Em Brasília, Alckmin faz pressão para alterar as regras de divisão do bolo tarifário entre os Estados, como forma de melhorar as finanças de São Paulo. O que chama a atenção é que muitas reivindicações levadas ao Governo Federal poderiam ser resolvidas em nível estadual.

O mesmo comportamento incoerente dos tucanos se dá em relação às CPIs. Em Brasília, qualquer coisa é motivo para deputados e senadores do PSDB saírem atirando contra o governo Lula. Tudo é desculpa para uma nova comissão de inquérito ou para estender os prazos daquelas existentes. Em São Paulo, em quase três anos, a base governista de Alckmin fez de tudo para barrar qualquer investigação na Assembléia. Não faltaram meios escusos, que passam por chantagens e barganhas políticas para impedir a instalação das mais de 60 CPIs propostas pelos parlamentares paulistas.

Na área de Defesa do Consumidor, mais contradições. A todo momento o governador " ou um de seus comandados " sai em defesa do Procon, enaltecendo os direitos dos consumidores. Porém, qualquer projeto que vise o bem-estar da população em relação ao tema é sumariamente vetado, sem qualquer argumentação consistente. E mais: como pode o governador dizer que defende os consumidores se, sem motivos claros, simplesmente fechou a Decon (Delegacia do Consumidor), que era uma polícia especializada, com poder para investigar e coibir os abusos praticados contra a população?

Como é possível observar, exemplos não faltam para demonstrar como é incoerente este governador. Aliás, Geraldo Alckmin deveria incluir em todos seus pronunciamentos uma rápida introdução para facilitar o entendimento por parte dos interlocutores: "Faça o que eu mando, não faça o que eu faço".



*Romeu Tuma é delegado de classe especial da Polícia Civil, deputado estadual pelo PMD), ex-presidente e atual integrante da Comissão de Segurança Pública, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos do Consumidor e corregedor da Assembléia Legislativa de São Paulo.

alesp