Na luta pela vida


31/10/2008 18:15

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Durante quase uma semana, o Brasil inteiro acompanhou o drama de duas jovens sob a mira do revólver empunhado por outro jovem, alucinado em sua dor de amor e capaz do gesto extremado que acabou assumindo: matou aquela por quem aparentemente viveu alguns anos de sua vida. Assim que se confirmou a morte de Eloá Cristina Pimentel, um grupo até então silencioso se colocou em ação para cumprir a difícil tarefa de conversar com a família da estudante para tentar convencê-la a doar os órgãos da jovem.

Desta missão, depois de ganhar o sim daquela família, os médicos saíram em busca de pessoas que, de alguma forma, levam uma vida pela metade e engrossam longas filas à espera de um rim, de um coração, de um fígado. Segundo o noticiário, pelo menos sete pessoas receberam os órgãos de Eloá e têm, a partir de agora, chances concretas de uma sobrevida. Entre elas, uma mulher de 39 anos de idade, oriunda de Ananindeua, no Pará, que nasceu sem o lado direito do coração e agora tem no peito um órgão inteiro, que pode permitir que ela faça coisas que nunca fez, como trabalhar e apreciar a vida.

Mas nem sempre é assim. Apesar de o Brasil contar com médicos altamente capacitados nas cirurgias de transplantes de órgãos, no outro extremo dessa cadeia está a dificuldade de encontrar doadores, já que as pessoas passam longe de discutir esse assunto e raramente se assumem como potenciais doadores, não expressando essa vontade para familiares e amigos.

Certamente que o assunto não é fácil. Esbarra em questões religiosas, na insuficiência de informação sobre como proceder e também na falta de pessoas preparadas não apenas para conversar com os familiares, mas também para agir tecnicamente na notificação de potenciais doadores de órgãos, com a rapidez que o processo exige. Instituições envolvidas com esta causa, inclusive hospitais particulares, cobram do Ministério da Saúde uma abordagem mais direta, mais constante e esclarecedora.

No ano passado, a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) revelou um dado preocupante: o número de doações, em 2007, havia caído em todo o Brasil e o índice nacional encontrava-se abaixo dos anos 2006, 2005 e 2004. Tanto a ABTO como a Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (Adote) realizam campanhas periódicas para despertar a consciência da sociedade sobre a necessidade de aumentar o número de doadores, mas reivindicam campanhas mais amplas e maior envolvimento da sociedade.

Em março deste ano, realizamos na Assembléia Legislativa de São Paulo um dia inteiro dedicado a ampliar um cadastro de doadores de medula óssea, em parceria com o Hospital do Câncer de Barretos. Quase 300 pessoas, inclusive eu e muitos deputados da Casa, preencheram os dados de cadastro e tornamo-nos potenciais doadores de medula, ampliando a possibilidade de tratamento e cura de pessoas com câncer. Precisamos convocar a sociedade e as autoridades de saúde para ações que preservem e melhorem a vida.

Sempre haverá os dois pólos dessa questão: os potenciais doadores e os que esperam receber. Quem está na condição de oferecer pode, desde já, engajar-se na luta que pretende ter apenas vencedores.



*Bruno Covas é deputado estadual e presidente nacional da Juventude do PSDB

alesp