Opinião - Cana-de-açúcar avança: isso é bom para o país?


09/12/2009 16:37

Compartilhar:


Há 23 anos como deputado estadual, portanto no sexto mandato, tenho percorrido todo o interior do nosso Estado, todos os anos, e pude constatar seguidamente o avanço da cultura de cana-de-açúcar e a proliferação de usinas de açúcar e álcool. É inquestionável que essa expansão trouxe desenvolvimento, com geração de empregos, qualificação de mão de obra, progresso tecnológico, entre outros benefícios.

O interior paulista é hoje um dos maiores produtores de cana-de-açúcar do mundo e com elevado índice de desenvolvimento urbano. Tanto assim, que a região de Ribeiro Preto, com larga concentração de plantações de cana e construção de usinas, acabou recebendo o "titulo" informal de "Califórnia Brasileira", numa alusão ao estado norte-americano, tido como o mais desenvolvido naquele país.

O Estado de São Paulo e boa parte do Brasil parecem, portanto, estarem caminhando para se tornar um grande canavial. Isso é bom ou ruim para o país? Na minha opinião, a monocultura não é o caminho. Temos a experiência com o café, que era a principal atividade em nosso Estado e teve que enfrentar uma grande crise, com a quebra da bolsa de Nova Iorque, em 1929. Numa tentativa de salvar essa grave situação e segurar os preços, o governo Getúlio Vargas determinou a incineração de toneladas do produto. São Paulo que era o maior produtor nacional desses grãos, atualmente é o terceiro atrás de Minas Gerais e Paraná. Ainda assim, o Brasil segue como o campeão em produção de café no mundo.

Acredito mesmo que a solução é fazer uma mistura de culturas, ou seja, ao lado da cana temos que criar alternativas e produzir ou ampliar outras plantações, tais como a laranja, milho, algodão, soja, arroz e feijão. O Brasil não pode ficar na dependência da monocultura da cana-de-açúcar, mesmo sendo um sucesso neste momento. Numa tentativa de estancar essa ampliação da cultura da cana, o governo federal editou em setembro passado o Projeto de Lei 6077/09, que regulamenta o Zoneamento Agroecológico Nacional da Cana-de-açúcar. O projeto, ainda em discussão no Congresso, prevê a proibição de construção de novas usinas e a expansão do plantio de cana na Amazônia, no Pantanal e Bacia do Alto Paraguai. Talvez a solução não resolva o problema, porém já é uma forma de buscar alternativas.

Uma outra questão preocupante é que daqui a alguns anos a expectativa é de que teremos petróleo em abundância, com a extração na camada do Pré-Sal, que poderá impactar negativamente no consumo de etanol e outros combustíveis não fósseis. Não nos esqueçamos que o petróleo já fez um estrago na década de 80, quando mais de 90% dos carros novos brasileiros eram movidos a álcool, com a criação do Proálcool. A partir de 1986, com a brutal queda no preço do petróleo, o álcool hidratado, usado como combustível, perdeu mercado para a gasolina e quase desapareceu.

Então torna-se importante, no momento, a discussão da extração de petróleo da camada do Pré-Sal e sua relação com a manutenção da produção de etanol e outros combustíveis, originários de oleaginosas. Essas alternativas, tidas como grandes contribuições no combate à poluição, poderão, como já foi dito, sentir um baque, quando começar a jorrar petróleo e, consequentemente, dólares, do Pré-Sal. Trata-se, portanto, de uma questão que merece uma reflexão, estudos e tomada de providências para manter o equilíbrio responsável no consumo e no meio ambiente.



*Vitor Sapienza é economista, agente fiscal de rendas aposentado e deputado estadual pelo PPS.

alesp