Opinião - O veneno na nossa mesa

Dos 50 princípios ativos ou moléculas mais usadas na composição de produtos agrotóxicos no Brasil, em 20 países eles já foram proibidos
15/12/2011 19:17

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Recentemente os brasileiros ficaram impactados com as notícias sobre o uso de agrotóxicos em quantidades acima do permitido na produção de pimentão, morango, batata, tomate, alface, entre outros. Para que se possa entender o problema, os ministérios da Agricultura e da Saúde autorizam o uso de determinados produtos em quantidades limitadas para que não prejudiquem a saúde dos consumidores, dos trabalhadores e do meio ambiente.

Na semana passada, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão ligado ao Ministério da Saúde, divulgou os resultados do Programa de Acompanhamento de Resíduos Agrotóxicos em Alimentos (Para) que analisa, em parceria com os governos estaduais, a presença de defensivos agrícolas usados em 20 produtos. Infelizmente, o Estado de São Paulo ficou mais uma vez fora das análises, pois o governo tucano nega-se a participar, alegando que já faz análises por sua própria conta. Na verdade, a Vigilância Sanitária de São Paulo analisa somente três produtos: arroz, feijão e laranja, e de forma esporádica.

Na mesma linha, a Proteste, entidade de defesa dos direitos do consumidor, analisou em setembro amostras de uva, pimentões, alface e couve e encontrou vestígios de pesticida em 63% das amostras de uva adquiridas em supermercados da capital paulista, além do uso de agrotóxicos não permitidos para este tipo de lavoura. As análises da Anvisa mostraram que um terço dos vegetais consumidos pelos brasileiros apresentaram resíduos de agrotóxicos em níveis inaceitáveis. As amostras de pimentão, por exemplo, continham 92% a mais de agrotóxicos do que o permitido, seguido pelo morango (63%) e pepino (57%).

Dos 50 princípios ativos ou moléculas mais usadas na composição de produtos agrotóxicos no Brasil, em 20 países eles já foram proibidos. Um exemplo é o Endossulfan, que aqui no Brasil só será banido em 2013, e que já foi proibido nos EUA e na China por ser cancerígeno.

Denúncias como estas já tinham vindo a público no documentário O veneno está na mesa, do cineasta Silvio Tendler, onde ele mostra que o Brasil tornou-se o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, num mercado que movimentou mais de R$ 7 bilhões em 2009.

Na Assembleia Legislativa, fui relator da CPI da Segurança Alimentar que, outubro 2010 e março 2011, depois de ouvir pesquisadores da USP, UFSCar, Unesp e Unicamp, lideranças de movimentos sociais e autoridades, chegou a conclusões assustadoras sobre o uso de centenas de agrotóxicos nas lavouras paulistas e mostrou a falta de políticas públicas e estrutura governamental para fiscalizar os abusos e irregularidades.

A CPI indicou aos governos estadual e federal uma série de medidas, entre elas a aprovação urgente de uma lei estadual, de minha autoria, que propõe o banimento de 14 moléculas prejudiciais à saúde e ao meio ambiente e presentes em mais de 200 agrotóxicos comercializados no nosso Estado. Sugeriu também a participação de São Paulo no programa Para, entre outras medidas.

A ingestão de comida com excesso de agrotóxicos de forma prolongada pode causar câncer, problemas neurológicos e malformação dos fetos em gestação. Eu não tenho dúvidas de que o aumento da incidência de casos de câncer tem muito que ver com o aumento do uso de agrotóxicos nas nossas lavouras. Nossa sociedade não pode ficar refém dos interesses de empresas multinacionais que só buscam auferir maiores lucros à custa da saúde dos brasileiros e da degradação do meio ambiente.



*Simão Pedro é deputado estadual pelo PT.

alesp