A FARSA DO 2.º MUNDO - OPINIÃO

Caldini Crespo*
23/03/2001 16:58

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O recente episódio envolvendo a suspensão das importações da carne bovina brasileira pelo Canadá, que levou americanos e mexicanos a tomarem a mesma decisão, já foi superado. A entrada da nossa carne bovina em terras canadenses, americanas e mexicanas está liberada, mas o chamado episódio da "vaca-louca", que nada mais foi do que um capítulo no embate comercial entre os países, revelou a face prepotente do Canadá contra os chamados países do 3.º mundo, como o Brasil.

Ao impor barreiras às exportações brasileiras de carne, o governo canadense tinha os olhos voltados verdadeiramente à disputa dos milhões de dólares do mercado de aviões, neste caso representado pela brasileira Embraer e a canadense Bombardier. E quando se viu ameaçado neste mercado, o Canadá não titubeou em dispor de "todas as suas armas" para vencer a "guerra".

Está mais do que claro que os países ricos não aceitam o desenvolvimento de outros, já que alcançando este objetivo, estarão disputando seus mercados, tratados muitas vezes como verdadeiros feudos. A defesa de tais mercados pelos ricos se torna ainda mais feroz quando tratamos de mercados onde estão envolvidas novas tecnologias.

É revoltante a forma como os países ricos buscam monopolizar os mercados e sufocar eventuais tentativas dos países pobres de deixar essa condição e ascender a um patamar mais alto, que possa lhe permitir uma qualidade de vida melhor a sua população. O próprio conceito de "países de 1.º Mundo" e "países de 3.º Mundo" funciona como uma espécie de barreira psicológica. Se aceitarmos que estamos no 3.º Mundo e pretendemos chegar ao 1.º, antes deveríamos passar pelo 2.º Mundo. Ou seja, há uma distância abismal nos separando do chamado 1.º Mundo, até porque ninguém explica qual é o 2.º Mundo.

Como é que poderíamos ter a pretensão de passar do 3.º para o 1.º Mundo se nem ao menos sabemos o que é o 2.º Mundo? Se desconhecemos quais países integram esse imaginário 2.º Mundo? Essa guerra psicológica, típica dos que detêm o poder e não desejam ser importunados na manutenção do "status quo" não pode nos abater.

O mundo é um só e determinada economia, seja ela grande ou pequena, não pode prevalecer de forma esmagadora sobre a outra de modo a sufocá-la e inviabilizá-la. Todos vão ganhar mais se todos cooperarem mutuamente.

Devemos entender que o superdesenvolvimento de uns poucos pode, num primeiro momento, parecer vantajoso ao beneficiário. Ocorre que a médio e longo prazos, essa situação pode acabar por determinar o extermínio de uma grande maioria que, potencialmente, seria mercado consumidor dos primeiros. De que adianta deter o monopólio de determinado produto se não se tiver mercado para ele? Mercado livre e competitivo é essencial para o desenvolvimento universal. E o Brasil vai chegar lá.

*Caldini Crespo é deputado estadual pelo PFL.

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