Severino é PT

OPINIÃO - Milton Flávio*
01/03/2005 17:34

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Não tenho procuração para defender Severino Cavalcanti. Ainda que a tivesse, não o faria. Politicamente não temos qualquer afinidade, exceto no que se refere ao óbvio ululante: ao fato de que todos parlamentares devem, sim, ser respeitados pelos seus pares. Afinal, eles representam uma parcela da sociedade. Goste-se ou não. Democracia relativa, já se viu por aqui, costuma não dar bons frutos.

Feita a ressalva, é bom que se diga que a ascensão de Severino Cavalcanti à Presidência da Câmara Federal é obra acabada do desgoverno Lula e do PT. Não estranha o fato que parte da imprensa queira atribuir à oposição - PSDB e PFL à frente - a derrota do candidato do presidente. Companheiros são companheiros, para todo o sempre. Ainda que isso implique agressão grosseira às quatro operações da matemática. Que fazer?

A base governista na Câmara Federal soma para lá de 365 votos. PSDB e PFL, juntos, têm apenas 113 parlamentares. Que o candidato oficial tenha obtido, no segundo turno, apenas 195 votos, é história a ser debitada na conta das atrapalhações dos próceres petistas, com Lula na boléia, representando seu papel favorito: o de salvador da pátria. Nunca é demais lembrar que, fisiológicos ou não, deputados da base governista reclamam - e não é de hoje - da desconsideração que lhes dispensa a maioria dos ministros e do não-cumprimento de acordos firmados com o próprio presidente. Uns e outros resolveram dar o troco. Fruto da ignorância, a empáfia é péssima companheira. Mas o PT não aprende nunca.

Antes de prosseguir, há de se fazer ao presidente Lula uma pergunta que não se cala: o que o levou a apoiar Luiz Eduardo Greenhalgh, mesmo sabendo que o ilustre deputado nunca gozou, por assim dizer, da simpatia de seus pares, inclusive dos que representam o próprio PT? Gratidão por serviços que lhes foram prestados, à sorrelfa?

Ultrapassa o cinismo à declaração do presidente Lula de que a derrota foi do PT, e não do governo. É lógico que foi. Ou Lula não mandou ministros pressionar deputados para que votassem no seu candidato? Ou o governo não patrocinou o vergonhoso "troca-troca" de partidos? Alguém se lembra de algum presidente da República que tenha se empenhado tanto, como Lula, para desmantelar o já desacreditado sistema partidário brasileiro? Que ele estivesse, por ocasião da eleição, no exterior, apenas confirma sua quase nenhuma aptidão para as lides cotidianas.

Descer a lenha no Severino, atribuir culpa a oposição, é coisa que interessa ao petismo e que não dá trabalho algum (ao contrário, dá satisfação) a certo tipo de jornalismo. Difícil é ter coragem de dizer que Lula e Cavalcanti têm, sim, semelhanças que ultrapassam o fato de ambos serem pernambucanos. Ambos são sindicalistas, do tipo que coloca os interesses corporativos acima dos interesses gerais. Ambos maltratam a língua pátria, como se ela fosse um Judas a ser malhado em palanque.

Muita gente se fingiu de indignada porque Severino diz ser contra casamento de homem com homem e de mulher com mulher. Mas não foi Lula quem disse, em alto e bom som, tão logo assumiu, que engravidara a mulher no primeiro dia, porque é macho?

*Milton Flávio é médico e deputado estadual pelo PSDB-SP

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