Opinião - Saúde: calamidade pública nacional!

Não há médicos em número suficiente. E os que existem, não prestam concurso porque os salários não são condizentes
02/03/2012 16:23

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Em recente pronunciamento na tribuna da Assembleia Legislativa, destaquei a oportunidade da Campanha da Fraternidade lançada pela CNBB (Confederação Nacional dos Bispos Brasileiros) neste ano focada no tema Saúde Pública.

Dentro do tema Fraternidade e Saúde Pública e do lema: Que a Saúde se Difunda sobre a Terra, essa campanha busca refletir sobre a saúde pública no Brasil a partir de seis itens:



1º - Disseminar o conceito do bem viver e sensibilizar a prática de hábitos de vida saudável;



2º - Sensibilizar as pessoas para os serviços de enfermagem, o suprimento de suas necessidades e a integração da sociedade;



3º - Alertar para a importância da organização da Pastoral da Saúde nas comunidades;



4º - Criar a Pastoral da Saúde onde não existe, fortalecer onde está incipiente e dinamizá-la onde já existe;



5º - Difundir dados sobre a realidade da saúde no Brasil e seus desafios como sua estreita relação com os aspectos sócio culturais da sociedade;



6º - Despertar na sociedade a discussão sobre a realidade da saúde pública visando a defesa do SUS e a reivindicação do seu justo financiamento; qualificar a comunidade para comparar as ações da administração pública e exigir a aplicação de recursos públicos com transparência, especialmente nessa área.



É importante a Igreja Católica, através de seus sacerdotes e bispos, levar ao conhecimento dos fiéis a realidade da saúde pública brasileira. Muitas vezes o cidadão comum só vem saber o quanto a saúde neste país está precária quando ele precisa, vai a um atendimento de emergência e lhe falam: "Volte no ano que vem", porque não há vagas nos hospitais.

No postos de atendimento, regra geral, faltam médicos.

Há outro aspecto ainda a ser considerado: abre-se concurso público para se contratar médicos e não aparecem candidatos em quantidade suficiente, porque a deficiência do número de médicos é muito grande, isso no Estado de São Paulo e nos municípios mais desenvolvidos do Estado mais desenvolvido do país. Calculem o que está acontecendo nos estados e municípios pobres. Não há médicos em número suficiente. E os que existem, não prestam concurso porque os salários não são condizentes.

Artigo do doutor Adib Jatene, publicado no jornal O Estado de S.Paulo, denuncia que uma comissão especial, da qual faz parte, apurou terem sido criadas muitas faculdades de medicina, num curto espaço de tempo, sem o mínimo de qualificação para formar médicos. Uma avaliação determinou como ideal ou o fechamento dessas faculdades ou a diminuição do numero de alunos, para poder haver um atendimento melhor em sua formação.

Mas infelizmente " conforme o doutor Jatene ", uma decisão do Ministério da Educação praticamente anulou essa medida, permitindo não apenas a continuidade das faculdades que preparam incorretamente os médicos, mas também o atendimento de mais de 30, 40 pedidos de instalação de novas faculdades de medicina.

Tenho informações de líderes da área da Saúde de que, se fosse determinado no Brasil um exame de capacitação dos bacharéis, como o que é realizado pela OAB para os formandos em direito (e o último exame registrou apenas 18% de aprovação) " o índice de êxito entre os recém-formados em medicina seguiria mais ou menos o mesmo percentual.

Podemos, assim, chegar a uma triste conclusão: há médicos fazendo cirurgias e atendendo doentes que, ao invés de curá-los, os encaminham mais cedo para o cemitério! A situação da saúde pública no Brasil, infelizmente, é calamitosa e deverá se agravar ainda mais com o corte de R$ 5,4 bilhões do Orçamento federal para essa área: se com a atual dotação o quadro é tétrico, imaginemos como ele ficará com essa redução.

Temos mesmo é de rezar e implorar " com o apoio da própria CNBB " pelo apoio divino...



*Welson Gasparini é deputado estadual pelo PSDB, advogado e ex-prefeito de Ribeirão Preto.

alesp