A SOCIEDADE E OS MENORES - OPINIÃO

Célia Leão*
04/06/2001 15:31

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No último dia 10 de maio, a imprensa e a mídia campineira publicaram o fato de o juiz Alberto Anderson Filho ordenar a retirada de todos os menores em situação de risco, que esmolam ou vendem nos cruzamentos da cidade, encaminhando-os para casas de acolhimento. Antes de qualquer debate, é de suma importância realçar que o despacho do nobre magistrado da Vara da Infância e da Juventude já trouxe seus benefícios, afinal, há vários anos a comunidade campineira convive com o problema de braços cruzados. Agora, após o despacho do magistrado, motivado por um requerimento do Ministério Público, estamos todos debatendo o assunto.

Assim, entendo que o despacho, por si só, já trouxe uma grande contribuição para o tema. Desde o dia em que o juiz tomou a decisão, foram retirados mais de vinte crianças e adolescentes das ruas.

Obviamente que não se resolve o problema simplesmente com a retirada das crianças e adolescentes dos cruzamentos, por medida de ofício. Precisamos tomar providências no sentido de reintegrar essas crianças em suas famílias, realizando um trabalho de reeducação, tanto com os menores quanto

com os pais ou responsáveis, afinal, na maioria das vezes, os menores são incentivados a tais atividades pelos próprios parentes, pois como se viu pelos trabalhos da imprensa, eles são uma grande contribuição no orçamento familiar. Muitas vezes são eles os responsáveis pelo sustento de seus lares, com a venda de balas, chicletes e outras pequenas mercadorias, enquanto seus pais encontram-se desempregados à espera de um trabalho que

parece nunca vir.

Também não podemos deixar de lembrar que muitos desses menores acabam nas esquinas para fugirem da violência doméstica, pois por muitas vezes são espancados e violentados nos próprios lares. Nestes casos, a intervenção

da sociedade tem que ser mais contundente e ágil, pois não podemos ficar debatendo, elaborando projetos mirabolantes enquanto nossas crianças tornam-se adolescentes e os adolescentes, adultos, educados pela "sabedoria" das esquinas.

Lembro ainda que 2001 é o ano internacional do trabalho voluntário. Assim eu provoco vocês a pensar: "O que nós fizemos por esses menores?". Vamos arregaçar as mangas e ir para as ruas, trabalhar para incluirmos esses menores em nossa sociedade pela porta da frente e não varrermos para

debaixo do tapete para esconder o problema. Cabe a nós, pessoas públicas, promovermos maneiras de a sociedade participar deste trabalho, seja com idéias ou ações.

Assim, aproveito o espaço para parabenizar o Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara da Infância e da Adolescência, Alberto Anderson Filho, por honrar seu cargo tendo a coragem de fazer valer a lei, obrigando a sociedade a sair detrás de seus enormes portões ou dos vidros fechados de seus automóveis e encarar o problema de nossas crianças e

adolescentes de frente.

* Célia Leão é deputada estadual pelo PSDB.

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