A Semana de 22: moderna, mesmo aos 81 anos


14/02/2003 18:40

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Perdidos entre as páginas dos jornais de fevereiro de 1922, pequenos "reclames" anunciavam o Festival de Arte Moderna, abrihantado pela participação de Guiomar Novais e Heitor Villa-Lobos. Mas quem se dispôs a desembolsar os 186 mil réis que davam direito às três récitas levou um susto. Ao transpor os degraus de acesso ao Teatro Municipal, os cavalheiros de fraque e cartola, acompanhados de damas elegantemente vestidas, paravam estarrecidos.E não era para menos: convertido em museu improvisado, o suntuoso hall apresentava pinturas e esculturas que, com raras exceções, desdenhavam de todos os cânones artísticos ensinados nas melhores academias daqui e de além mar.

E pouco adiantava buscar coerência ou rima nos versos declamados no palco. Ali, uma enxurrada de desatinos literários feria sensibilidades refratárias a experimentalismos lingüísticos. Delírios poéticos sobre aeroplanos, sombrinhas e capas de chuva, sapos e guerra provocavam os espectadores, que revidaram numa bem orquestrada vaia regida pelos estudantes do alto das galerias.

Uma profusão de estudos, ensaios e hipóteses surgiu desde então para tentar explicar o fenômeno iniciado naquela Semana de 22. Considerada uma fronteira definitiva no panorama artístico e literário do país, a Semana de Arte Moderna e seus principais artífices, em especial Mário de Andrade, ocupam um lugar privilegiado na historiografia contemporânea. Assim , ao completar o movimento 81 anos, o Diário Oficial do Poder Legislativo presta sua homenagem aos vanguardistas, publicando algumas das obras (versos e pinturas) daqueles que, com raro talento e criatividade, colocaram o Brasil em pé de igualdade com o que de mais moderno acontecia na arte européia e de todo o mundo ocidental, criando e mantendo viva e pulsante uma nova maneira de expressão cultural da brasilidade.

SÃO PAULO

Canto a cidade das neblinas e dos viadutos

minha cidade

amante de futebol e vendedora de café

Os aventureiros bigodudos

como nas fitas da Paramount

o Friedenreich pé de anjo

e a bolsa de mercadorias

as chaminés parturientes do Brás

os quinze mil automóveis orgulhosos

no barulho ensurdecedor dos klaxons

e a cultura envernizada dos burgueses

os engraxates da Praça Antônio Prado

e o serviço telegráfico do "Estado"

a febre do dinheiro

as falências sírio-nacionais

a especulação sobre os terrenos

a politicagem e os politiqueiros

e a negra de pó de arroz

e até os bondes da Light

para o Tietê das regatas e dos bandeirantes

os homens dizem que tu és ingrata

e que devoras os teus próprios filhos...

Mas que linda madrasta tu és

toda vestida de jardins!

Minha cidade

Amo também teus plátanos nostálgicos

imigrantes infelizes

teus crepúsculos de seda japonesa

tuas ruas longas de casas baixas

e teu triângulo provinciano...

Menotti del Picchia. Poemas Análogos.1927.

inicioinicio

São Paulo

A neblina das manhãs de inverno

_ ó São Paulo enorme, ó São Paulo de hoje, ó São Paulo ameaçador! _

a neblina das manhãs de inverno

amortece um pouco o orgulho triunfante das tuas chaminés.

A neblina esconde o contorno das grandes fábricas ao longe,

perdidas na planície, entre o chato casario proletário.

E tudo cor de barro novo, como se fosse manchado de sangue.

Nas ruas do centro agita-se a pressa do comércio.

Nos bairros burgueses, no entanto, há o silêncio.

As alamedas adormecem sob o silêncio.

Os jardins adormecem sob o silêncio.

Rui Ribeiro Couto. Um homem na multidão. Rio de Janeiro, Livraria Odeon, 1926.

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Canto a cidade das neblinas

e dos viadutos

minha cidade

amante de futebol e vendedora de café

Os aventureiros bigodudos

como nas fitas da Paramount

o Friedenreich pé de anjo

e a bolsa de mercadorias

as chaminés parturientes do Brás

os quinze mil automóveis orgulhosos

no barulho ensurdecedor dos klaxons

e a cultura envernizada dos burgueses

os engraxates da Praça Antônio Prado

e o serviço telegráfico do "Estado"

a febre do dinheiro

as falências sírio-nacionais

a especulação sobre os terrenos

a politicagem e os politiqueiros

e a negra de pó de arroz

e até os bondes da Light

para o Tietê das regatas e dos bandeirantes

os homens dizem que tu és ingrata

e que devoras os teus próprios filhos...

Mas que linda madrasta tu és

toda vestida de jardins!

Minha cidade

Amo também teus plátanos nostálgicos

imigrantes infelizes

teus crepúsculos de seda japonesa

tuas ruas longas de casas baixas

e teu triângulo provinciano...

Menotti del Picchia. Poemas Análogos.1927.

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São Paulo

A neblina das manhãs de inverno

_ ó São Paulo enorme, ó São Paulo de hoje, ó São Paulo ameaçador! _

a neblina das manhãs de inverno

amortece um pouco o orgulho triunfante das tuas chaminés.

A neblina esconde o contorno das grandes fábricas ao longe,

perdidas na planície, entre o chato casario proletário.

E tudo cor de barro novo, como se fosse manchado de sangue.

Nas ruas do centro agita-se a pressa do comércio.

Nos bairros burgueses, no entanto, há o silêncio.

As alamedas adormecem sob o silêncio.

Os jardins adormecem sob o silêncio.

Rui Ribeiro Couto. Um homem na multidão. Rio de Janeiro, Livraria Odeon, 1926.

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Canto a cidade das neblinas

e dos viadutos

minha cidade

amante de futebol e vendedora de café

Os aventureiros bigodudos

como nas fitas da Paramount

o Friedenreich pé de anjo

e a bolsa de mercadorias

as chaminés parturientes do Brás

os quinze mil automóveis orgulhosos

no barulho ensurdecedor dos klaxons

e a cultura envernizada dos burgueses

os engraxates da Praça Antônio Prado

e o serviço telegráfico do "Estado"

a febre do dinheiro

as falências sírio-nacionais

a especulação sobre os terrenos

a politicagem e os politiqueiros

e a negra de pó de arroz

e até os bondes da Light

para o Tietê das regatas e dos bandeirantes

os homens dizem que tu és ingrata

e que devoras os teus próprios filhos...

Mas que linda madrasta tu és

toda vestida de jardins!

Minha cidade

Amo também teus plátanos nostálgicos

imigrantes infelizes

teus crepúsculos de seda japonesa

tuas ruas longas de casas baixas

e teu triângulo provinciano...

Menotti del Picchia. Poemas Análogos.1927.

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São Paulo

A neblina das manhãs de inverno

_ ó São Paulo enorme, ó São Paulo de hoje, ó São Paulo ameaçador! _

a neblina das manhãs de inverno

amortece um pouco o orgulho triunfante das tuas chaminés.

A neblina esconde o contorno das grandes fábricas ao longe,

perdidas na planície, entre o chato casario proletário.

E tudo cor de barro novo, como se fosse manchado de sangue.

Nas ruas do centro agita-se a pressa do comércio.

Nos bairros burgueses, no entanto, há o silêncio.

As alamedas adormecem sob o silêncio.

Os jardins adormecem sob o silêncio.

Rui Ribeiro Couto. Um homem na multidão. Rio de Janeiro, Livraria Odeon, 1926.

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Canto a cidade das neblinas

e dos viadutos

minha cidade

amante de futebol e vendedora de café

Os aventureiros bigodudos

como nas fitas da Paramount

o Friedenreich pé de anjo

e a bolsa de mercadorias

as chaminés parturientes do Brás

os quinze mil automóveis orgulhosos

no barulho ensurdecedor dos klaxons

e a cultura envernizada dos burgueses

os engraxates da Praça Antônio Prado

e o serviço telegráfico do "Estado"

a febre do dinheiro

as falências sírio-nacionais

a especulação sobre os terrenos

a politicagem e os politiqueiros

e a negra de pó de arroz

e até os bondes da Light

para o Tietê das regatas e dos bandeirantes

os homens dizem que tu és ingrata

e que devoras os teus próprios filhos...

Mas que linda madrasta tu és

toda vestida de jardins!

Minha cidade

Amo também teus plátanos nostálgicos

imigrantes infelizes

teus crepúsculos de seda japonesa

tuas ruas longas de casas baixas

e teu triângulo provinciano...

Menotti del Picchia. Poemas Análogos.1927.

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São Paulo

A neblina das manhãs de inverno

_ ó São Paulo enorme, ó São Paulo de hoje, ó São Paulo ameaçador! _

a neblina das manhãs de inverno

amortece um pouco o orgulho triunfante das tuas chaminés.

A neblina esconde o contorno das grandes fábricas ao longe,

perdidas na planície, entre o chato casario proletário.

E tudo cor de barro novo, como se fosse manchado de sangue.

Nas ruas do centro agita-se a pressa do comércio.

Nos bairros burgueses, no entanto, há o silêncio.

As alamedas adormecem sob o silêncio.

Os jardins adormecem sob o silêncio.

Rui Ribeiro Couto. Um homem na multidão. Rio de Janeiro, Livraria Odeon, 1926.

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Canto a cidade das neblinas

e dos viadutos

minha cidade

amante de futebol e vendedora de café

Os aventureiros bigodudos

como nas fitas da Paramount

o Friedenreich pé de anjo

e a bolsa de mercadorias

as chaminés parturientes do Brás

os quinze mil automóveis orgulhosos

no barulho ensurdecedor dos klaxons

e a cultura envernizada dos burgueses

os engraxates da Praça Antônio Prado

e o serviço telegráfico do "Estado"

a febre do dinheiro

as falências sírio-nacionais

a especulação sobre os terrenos

a politicagem e os politiqueiros

e a negra de pó de arroz

e até os bondes da Light

para o Tietê das regatas e dos bandeirantes

os homens dizem que tu és ingrata

e que devoras os teus próprios filhos...

Mas que linda madrasta tu és

toda vestida de jardins!

Minha cidade

Amo também teus plátanos nostálgicos

imigrantes infelizes

teus crepúsculos de seda japonesa

tuas ruas longas de casas baixas

e teu triângulo provinciano...

Menotti del Picchia. Poemas Análogos.1927.

inicioinicio

São Paulo

A neblina das manhãs de inverno

_ ó São Paulo enorme, ó São Paulo de hoje, ó São Paulo ameaçador! _

a neblina das manhãs de inverno

amortece um pouco o orgulho triunfante das tuas chaminés.

A neblina esconde o contorno das grandes fábricas ao longe,

perdidas na planície, entre o chato casario proletário.

E tudo cor de barro novo, como se fosse manchado de sangue.

Nas ruas do centro agita-se a pressa do comércio.

Nos bairros burgueses, no entanto, há o silêncio.

As alamedas adormecem sob o silêncio.

Os jardins adormecem sob o silêncio.

Rui Ribeiro Couto. Um homem na multidão. Rio de Janeiro, Livraria Odeon, 1926.

inicioinicio

Canto a cidade das neblinas

e dos viadutos

minha cidade

amante de futebol e vendedora de café

Os aventureiros bigodudos

como nas fitas da Paramount

o Friedenreich pé de anjo

e a bolsa de mercadorias

as chaminés parturientes do Brás

os quinze mil automóveis orgulhosos

no barulho ensurdecedor dos klaxons

e a cultura envernizada dos burgueses

os engraxates da Praça Antônio Prado

e o serviço telegráfico do "Estado"

a febre do dinheiro

as falências sírio-nacionais

a especulação sobre os terrenos

a politicagem e os politiqueiros

e a negra de pó de arroz

e até os bondes da Light

para o Tietê das regatas e dos bandeirantes

os homens dizem que tu és ingrata

e que devoras os teus próprios filhos...

Mas que linda madrasta tu és

toda vestida de jardins!

Minha cidade

Amo também teus plátanos nostálgicos

imigrantes infelizes

teus crepúsculos de seda japonesa

tuas ruas longas de casas baixas

e teu triângulo provinciano...

Menotti del Picchia. Poemas Análogos.1927.

inicioinicio

São Paulo

A neblina das manhãs de inverno

_ ó São Paulo enorme, ó São Paulo de hoje, ó São Paulo ameaçador! _

a neblina das manhãs de inverno

amortece um pouco o orgulho triunfante das tuas chaminés.

A neblina esconde o contorno das grandes fábricas ao longe,

perdidas na planície, entre o chato casario proletário.

E tudo cor de barro novo, como se fosse manchado de sangue.

Nas ruas do centro agita-se a pressa do comércio.

Nos bairros burgueses, no entanto, há o silêncio.

As alamedas adormecem sob o silêncio.

Os jardins adormecem sob o silêncio.

Rui Ribeiro Couto. Um homem na multidão. Rio de Janeiro, Livraria Odeon, 1926.

inicioinicio

Canto a cidade das neblinas

e dos viadutos

minha cidade

amante de futebol e vendedora de café

Os aventureiros bigodudos

como nas fitas da Paramount

o Friedenreich pé de anjo

e a bolsa de mercadorias

as chaminés parturientes do Brás

os quinze mil automóveis orgulhosos

no barulho ensurdecedor dos klaxons

e a cultura envernizada dos burgueses

os engraxates da Praça Antônio Prado

e o serviço telegráfico do "Estado"

a febre do dinheiro

as falências sírio-nacionais

a especulação sobre os terrenos

a politicagem e os politiqueiros

e a negra de pó de arroz

e até os bondes da Light

para o Tietê das regatas e dos bandeirantes

os homens dizem que tu és ingrata

e que devoras os teus próprios filhos...

Mas que linda madrasta tu és

toda vestida de jardins!

Minha cidade

Amo também teus plátanos nostálgicos

imigrantes infelizes

teus crepúsculos de seda japonesa

tuas ruas longas de casas baixas

e teu triângulo provinciano...

Menotti del Picchia. Poemas Análogos.1927.

inicioinicio

São Paulo

A neblina das manhãs de inverno

_ ó São Paulo enorme, ó São Paulo de hoje, ó São Paulo ameaçador! _

a neblina das manhãs de inverno

amortece um pouco o orgulho triunfante das tuas chaminés.

A neblina esconde o contorno das grandes fábricas ao longe,

perdidas na planície, entre o chato casario proletário.

E tudo cor de barro novo, como se fosse manchado de sangue.

Nas ruas do centro agita-se a pressa do comércio.

Nos bairros burgueses, no entanto, há o silêncio.

As alamedas adormecem sob o silêncio.

Os jardins adormecem sob o silêncio.

(Rui Ribeiro Couto. Um homem na multidão. Rio de Janeiro, Livraria Odeon, 1926)

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