Foram tantas as idéias sobre o século XXI a povoar o imaginário de artistas, poetas, cientistas, economistas e políticos. Ninguém poderia, no entanto, imaginar que ele chegasse de forma tão definitiva e avassaladora, questionando o modo de vida da civilização e alertando para a necessidade de transformações profundas.

O pó das torres gêmeas e os horrores da guerra representam uma grande encruzilhada para a humanidade.

Podemos fazer de conta que nada houve e continuar a trilhar o caminho das desigualdades econômicas e da pauperização dos povos. Ou podemos virar o jogo e tornar esse planeta habitável: sem fome, com teto, solidário, respeitoso com o meio ambiente, generoso nas oportunidades, zeloso em relação às desigualdades, tanto no âmbito interno das nações como nas relações internacionais.

Não dá mais para fechar os olhos para os avanços da Aids na África.

Não dá mais para virar as costas para os Severinos que morrem de morte morrida e de morte matada pelo interior do Brasil.

Não dá mais para fingir que as guerras, no Kosovo, no Afeganistão ou no Oriente Médio são distantes e não nos atingem.

Não dá mais para fazer de conta que a violência urbana possa ser imunizada pelo refúgio em condomínios de luxo ou carros blindados.

Não dá para mais para dividir o mundo em mocinhos e bandidos, bons e maus.

Não dá mais para achar que existe religião, raça ou verdade única. Não há mais espaço para egoístas e tantos istas mais.

Se quisermos transformar o mundo e não deixar que ele nos transforme por inércia nos levando quem sabe para onde, precisamos enxergá-lo de um jeito diferente: global, multi-racial, livre e sem fronteiras.

Não se apressem os liberais em imaginar que me refiro à sua globalização ou ao mito do livre mercado. Falo de algo mais. Falo do restabelecimento da utopia. De recuperar a capacidade de sonhar com um mundo menos injusto, aqui, no Congo, na América, na Europa ou na Oceania. Falo de respeito, de solidariedade e de vida digna no planeta terra. Dê sua contribuição. No ano de 2002 escude-se no seu sorriso, mine os caminhos com justiça, arme-se de solidariedade e bombardeie esperança.

*Arnaldo Jardim é deputado estadual e engenheiro civil. Foi secretário da Habitação em 1993 e relator-geral do Fórum SP Séc. XXI. É presidente estadual do PPS.