Opinião: Cadê a mercadoria?


15/04/2005 15:05

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Os petistas " assumidos ou não " que me perdoem. Mas, a esta altura, é difícil encontrar um ser de boa-fé que não se tenha apercebido do deslumbramento e do despreparo de Lula. Um e outro são gritantes. E o que é pior: carregam consigo uma boa dose de arrogância, daquela arrogância que costuma caracterizar quem não foi além de duas ou três orelhas de livro. Por simples madraçaria.

Agora mesmo, em sua quarta visita à África, o presidente resolveu ensinar ao mundo como se faz política externa: "Política não se faz via fax, não se faz via telefone e não se faz via internet. Política é olho no olho. É no téte-à-téte... Nós não podemos ficar esperando que as pessoas apareçam no Brasil para comprar (nossos produtos)". O presidente foi além: disse que "incentiva" seus ministros a viajar ao exterior. Sem disfarçar o orgulho tolo, lembrou ainda que nenhum ex-presidente brasileiro foi tantas vezes ao continente africano quanto ele. No fundo, ele sonha ser citação do Guiness Book.

Não resta a menor dúvida de que o presidente incentiva seus ministros e auxiliares a viajar " e de que ambos cumprem com extrema alegria a missão recebida. Tanto é que, em 2004, nada menos que R$ 1,1 bilhão foram gastos com passagens, estadias e cartões corporativos. Para que se tenha idéia do que isso representa, basta lembrar que tanto dinheiro equivale a três vezes e meia o orçamento do ano passado do Ministério da Cultura. Ou mais de trinta vezes o que foi gasto com o programa Primeiro Emprego. O problema é que tanto sobe-e-desce de avião nem sempre resulta em benefícios para o país. O que acaba de acontecer na Nigéria é revelador do despreparo a que nos referimos nas primeiras linhas.

Em 2004, o Brasil importou da Nigéria cerca de 3,5 bilhões de dólares; para lá enviou algo em torno de 500 milhões de dólares. Os números são claríssimos. Era de se esperar que o presidente e comitiva se empenhassem no sentido de promover uma queda significativa do déficit comercial. Para tanto, a delegação brasileira teria que dispor de informações claras sobre as restrições comerciais e tributárias que a Nigéria impõe aos produtos brasileiros. Do contrário, as conversas entre os representantes dos países não seriam nada mais do que, de fato, acabaram sendo: papo furado.

Um dos problemas de Lula, que acaba contaminando seu governo chinfrim, é que ele acha que o mundo dá ouvidos à sua falação sem fim e, não, raro, sem lógica. Talvez ele próprio não saiba, porque pouco ouve e nada lê, que é pago para defender os interesses do país e não para passear às custas do contribuinte e à cata de suvenires.

O presidente age como um mascate falastrão que bate em todas as portas, mas que nada vende, porque esqueceu de levar as mercadorias.

*Milton Flávio (PSDB-SP) é deputado estadual e professor de Urologia da Unesp (Botucatu)

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