OPINIÃO: O chocante número de assassinatos

Afanasio Jazadji *
02/07/2004 17:59

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A cada ano, mais de 40 mil pessoas são assassinadas no Brasil. De 1980 a 1990, o número de vítimas chegou a 183 mil. Na década seguinte, de 1990 a 2000, o total saltou para 401 mil mortes violentas. Vejam bem: em dez anos, o País perdeu mais de 400 mil vidas preciosas, o correspondente à população de uma cidade do porte de Ribeirão Preto, uma das maiores do Estado de São Paulo.

Esses números se comparam aos de vítimas fatais de guerras sangrentas das últimas décadas, como a do Vietnã, a do Golfo e a do Kosovo. Esse balanço também chega a lembrar as constantes chacinas de algumas guerras civis na África, como as do Congo, Uganda, Ruanda, Etiópia, Nigéria, Angola e Libéria. Pois é... Nosso País não tem terremotos, não tem vulcões, não tem guerras, mas sofre de uma incrível epidemia: a dos assassinos. E o pior é que boa parte desses criminosos acaba ficando impune, em liberdade.

As estatísticas sobre os assassinatos em estados brasileiros constam no documento "Saúde Brasil 2004", apresentado pelo Ministério da Saúde, no fim de junho, no Congresso de Epidemiologia, em Recife. O número de homicídios no País é tão grande que passou a ser tratado como problema grave de saúde pública. O próprio governo federal alerta para isso. Entretanto, todos nós sabemos que, apesar desse alerta, pouco se faz em Brasília para um combate mais efetivo à violência e à criminalidade. Tem havido muita espuma, muito marketing, muitos planos... E nada de resultados práticos. Até quando?

Convém salientar que, dos anos 80 para os anos 90, o crescimento do número de assassinatos no Brasil significou algo além do dobro. E mais: já estamos quase na metade de mais uma década, a primeira do novo milênio, e não houve sinais de reação positiva. Em 2001, por exemplo, o total de homicídios alcançou 46.685 pessoas. Isso equivale a um Estádio do Pacaembu lotado! Se o governo Fernando Henrique Cardoso ficou no campo da poesia, chegando a trocar de ministro da Justiça oito vezes, o governo Luiz Inácio Lula da Silva repete frases feitas e usa sua munição contra falsos inimigos. A proibição da venda e do uso de armas, por exemplo, foi um erro absurdo. O recente anúncio da criação de uma Força Nacional, por parte do atual ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, é outra tentativa de solução que fica apenas nas promessas. Os Estados e Municípios, por sua vez, buscam superar antigos problemas de segurança pública, mas esbarram na falta de dinheiro ou nos vícios de uma política demagógica. O noticiário comprova essa conclusão.

O Interior de São Paulo, que já foi tranqüilo, vive hoje em dia sob tensão. Já não existem cidades em que as pessoas podem deixar aberta a porta de casa. Assaltos, seqüestros e assassinatos poluem os jornais das regiões de Campinas, Sorocaba, Ribeirão Preto, São José dos Campos, Araçatuba, Franca, São José do Rio Preto e Santos. O Governo do Estado informa que nunca havia prendido tantos bandidos quanto na atualidade. Mas a onda de crimes não pára.

Nesta época de férias escolares de inverno, em que os paulistas fazem um caminho inverso ao do verão, deixando de lado as praias para tentar aproveitar as vantagens de estâncias hidrominerais, climáticas, turísticas e históricas do Interior, especialmente nas regiões montanhosas, determinados municípios recebem milhares e milhares de visitantes. No meio de tanta gente de bem, aparecem também os bandidos, que no verão costumam atacar as cidades do Litoral. Desta forma, nada mais válido que reforçar o policiamento em tais estâncias, nesta época do ano. Campos do Jordão chega a receber 250 mil pessoas em alguns dias do mês de julho. Uma vez que o PIB naquela cidade é alto, a Polícia Militar do Estado envia um grande continente para a Serra da Mantiqueira. No entanto, prefeitos do Interior já andaram reclamando, com razão, sobre os perigos enfrentados pela população de cidades não tão turísticas.

Uma vez que o efetivo policial do Estado inteiro não passa por ampliação, o que ocorre é simplesmente uma transferência de policiais de um município para outro. São Paulo e Campinas, por apresentarem alto índice de violência, recebem especial atenção da Secretaria da Segurança Pública, mas é preciso não descuidar de outras cidades, especialmente as pequenas e médias, onde os tempos de tranqüilidade pertencem ao passado.

Já que assassinatos tornaram-se caso de saúde pública, significando tragédia e prejuízo, é hora de se pensar em solução, em ação. Mãos à obra!

Afanasio Jazadji é deputado estadual

alesp