Os partidos políticos perderam conteúdo ideológico, mas continuam sendo fundamentais para o funcionamento da arena eleitoral. A avaliação foi feita pela cientista social Maria Tereza Miceli Kerbauy, professora da Unesp/Araraquara. Ela foi a conferencista convidada desta sexta-feira, 15/4, para o ciclo de palestras "Estado, Governo e Poder Legislativo no Brasil do Século XX", promovido pelo Instituto do Legislativo Paulista, na Assembléia Legislativa.

Para Maria Tereza, o papel das organizações sociais " ONGs e conselhos, por exemplo " e da mídia como intermediárias nas relações entre agremiações políticas e eleitores são, em parte, responsáveis pelo esvaziamento ideológico e pela perda do caráter de mediação dos partidos.

"Hoje, as organizações partidárias são mais pragmáticas. Elas atendem, sobretudo, a interesses eleitorais e de atuação na agenda do governo", ela avalia. Trata-se de uma mudança da qual o Brasil não escapou, mas que ocorreu no mundo todo, segundo a professora, que é mestre e doutora em ciências sociais pela PUC/SP.

Sem clareza ideológica, os partidos vêem na competitividade e na profissionalização uma forma de atingir seus objetivos eleitorais: ganhar eleições e influir no funcionamento da esfera governamental. "E para ter caráter ideológico o partido precisa ter uma identidade coletiva, que é algo que se perde com a profissionalização", aponta Maria Tereza.

Isso não aponta, no entanto, para a extinção dos partidos, que continuam sendo, por exemplo, o único meio de viabilizar candidaturas para a disputa eleitoral. "Não vejo, no horizonte de curto prazo, a possibilidade de desaparecimento dos partidos, que são instituições fundamentais para a estruturação da arena eleitoral", afirma Maria Tereza.

As mudanças no perfil dos partidos são resultantes de transformações na sociedade " que passa a ter interesses mais fragmentados " e, por isso, são irreversíveis, na opinião da professora.