Opinião - O BNDES e seus campeões nacionais


05/07/2011 10:11

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O dinheiro público vai servir, mais uma vez, para irrigar cofres privados. Em sua estratégia de eleger "campeões nacionais", o BNDES colocará até R$ 4,5 bilhões na megafusão das operações do Pão de Açúcar com a parte brasileira do Carrefour. Como sempre, ficará para o cidadão brasileiro pagar a conta.

Se prosperar, a transação resultará na criação de uma empresa que dominará 32% do setor de supermercados e 27% do varejo nacional. Será, portanto, uma gigante sem concorrentes à altura. Terá poder suficiente para esfolar consumidores, fornecedores e funcionários.

Percentuais acima de 20% de concentração de mercado indicam a existência de potencial anticompetitivo, de acordo com padrões usados pelo Cade. Quanto maior a concentração do setor, menor a competição por preços. Não há, portanto, ganhos à vista para os consumidores brasileiros.

A desculpa de formar "campeões nacionais" é sempre assacada pelo BNDES para justificar sua política de auxílio a grandes conglomerados capitalistas. Foi assim na composição do JBS-Friboi, na Oi-Brasil Telecom, na VCP-Aracruz, na Sadia-Perdigão. Mas alguém é capaz de apontar algum benefício para a sociedade decorrente da criação dessas megacorporações? Pelo contrário, no caso da empresa de carnes o que se viu foi quebradeira de empresas frigoríficas menores espalhadas pelo interior do país. Já a megaempresa de comunicação resiste a oferecer serviços mais baratos de celular ou internet.

Ao contrário das grandes, empresas pequenas e médias não têm obtido guarida no BNDES. De janeiro a abril deste ano, grandes companhias ficaram com 55% do valor desembolsado em financiamentos pelo banco oficial de fomento. Esse dinheiro foi concentrado em apenas 6% das operações.

Nos últimos anos, o Tesouro já se endividou em R$ 260 bilhões, incluindo R$ 30 bilhões neste ano, para financiar o BNDES nas suas operações. Na maior parte desses negócios, o banco enterrou dinheiro público em buracos sem fundo, sempre em volumes cavalares. Poderá ser assim também no Pão de Açúcar-Carrefour. Então pergunto: por que o dinheiro público, coletado dos impostos, deve ser utilizado para financiar fusões de interesse privado?. Quando uma empresa subsidiada pelo BNDES quebra, quem fica com a conta são os consumidores. É o socialismo invertido : o lucro é privatizado e os prejuízos são socializados.

Mas esse é o modo de governar do PT: em vez de ajudar empresas brasileiras a ampliar o crédito, ajuda os gigantes internacionais com dinheiro do contribuinte. Em São Paulo e no Brasil há centenas de santas casas quebradas porque o governo federal não aumenta os valores da tabela SUS. A Santa Casa de São Paulo, que tem o maior pronto-socorro do mundo, só não fechou as portas porque o governador Geraldo Alckmin determinou repasses extras de R$ 8 milhões. Mas isso é uma questão de prioridade, pois o PT, em vez de dar mais dinheiro para a saúde brasileira, prefere ajudar empresa estrangeira.

O governo do PT terá dificuldade para justificar mais essa parceria regada a farto dinheiro público em prol de largos benefícios privados. Uma coisa é certa: a sociedade brasileira não tem nada a ganhar com mais esse meganegócio. Exige, pelo menos, não ser chamada a pagar a conta. (mlf)



*Pedro Tobias é deputado e presidente estadual do PSDB.

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