INVESTIMENTOS SEM GUERRA FISCAL - OPINIÃO

Duarte Nogueira*
26/06/2001 14:18

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Quando o governador Mário Covas avisou que São Paulo não iria entrar na "guerra fiscal", havia os que achavam que o Estado iria deixar de receber investimentos. Se outras unidades da Federação estavam concedendo incentivos para a atração de empresas e recursos privados, a tendência era que os investimentos até então programados para São Paulo mudariam de endereço.

Um ano depois da discussão, as previsões falharam e o governador Covas, mais uma vez, tinha razão. O volume de investimentos privados anunciados no ano passado foram superiores em relação a 1999. Cresceram 6% e atingiram um montante de US$ 23,7 bilhões. Esses investimentos representam mais de 8% do PIB paulista, que é de US$ 284 bilhões. De 1995 ao ano passado, São Paulo atraiu US$ 115,5 bilhões, uma média de US$ 20 bilhões por ano.

Esses resultados foram apresentados pela Fundação Seade de análise de dados e trazem aspectos interessantes. Mostram, por exemplo, que os investimentos industriais ainda representam a maior parte dos recursos privados aplicados no Estado: 62%. Mas o setor de serviços cresceu e foi responsável pela atração de 35% desses investimentos. As aplicações no comércio foram 3%.

O levantamento também registrou uma mudança na mão dos recursos. A região metropolitana foi a que mais atraiu investimentos, mas recebeu 31% menos do que em 1999. A "interiorização" dos investimentos intensifica-se a cada ano. Um dos mais importantes anúncios, sem dúvida, foi a da implantação de uma fábrica da Embraer em Gavião Peixoto, região de Araraquara. A Embraer irá aplicar US$ 60 milhões em pesquisas e outros US$ 150 milhões para construir a unidade, serão gerados 3.000 empregos diretos e 1.500 indiretos. O efeito propagador sobre o entorno da região de Gavião Peixoto será marcante.

E quais os motivos para a atração desses investimentos a São Paulo?

São, sem dúvida, a infra-estrutura de transportes e telecomunicações, oferta de mão-de-obra qualificada, disponibilidade de centros universitários e de pesquisas internacionais. São, na verdade, um conjunto de ações estatais que dão condições ao Estado de entrar na disputa por investimentos, sem lançar mão de isenções, quaisquer que sejam, e que, no fundo, representam mais perdas do que ganhos.

Já temos, por exemplo, na região, a perspectiva da internacionalização do aeroporto de Ribeirão Preto, da distribuição do gás natural como fonte geradora de energia, uma sensível melhora nas condições das rodovias - quando o país já prevê um colapso no transporte rodoviário em outras partes do Brasil -, investimentos em pesquisas - como foi o do projeto genoma - e avanços em indicações sociais que se traduzem na melhoria da qualidade de vida de todas as regiões paulistas.

Ao se negar a entrar na "guerra fiscal", o governador Covas enxergava longe, como também vê o seu sucessor, Geraldo Alckmin. De nada adianta o Estado abrir mão de tributos se não pode oferecer estrada, comunicação e mão-de-obra de qualidade para o investidor.

*Duarte Nogueira é deputado estadual, líder do governo na Assembléia Legislativa e vice-presidente do PSDB de São Paulo. Foi secretário de Estado no governo Covas de 1995 a 1996.

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