Julgamento de policiais que assassinaram três jovens no Carnaval de 99 começa terça-feira


06/07/2001 18:15

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Dois anos e cinco meses depois do assassinato de três rapazes no Carnaval de 1999, em São Vicente, os acusados começam a ser julgados, nesta terça-feira, 10/7, por um júri popular, no Fórum de Praia Grande (av. José Roberto de Almeida Zinhas, 9.101, Vila Mirim). A informação é da deputada Maria Lúcia Prandi (PT), coordenadora da Frente Parlamentar pelo Fim da Violência Contra Crianças e Adolescentes.

O primeiro a passar pelo crivo do júri será o soldado Edvaldo Rubens de Assis. "Eu não vou conseguir olhar na cara deles. Nem as fotos em jornal consigo ver. Ainda tenho muito ódio em meu coração. Acho que só um milagre pode me fazer perdoá-los." Estas frases, de acordo com a deputada, sintetizam a dor e a revolta de Vanda Pereira dos Santos em relação aos quatro policiais militares que, no dia 17 de fevereiro de 1999, assassinaram seu filho, Anderson Pereira dos Santos (14), e outros dois jovens: Thiago Passos Ferreira (17) e Paulo Roberto da Silva (21). "Espero que eles sejam punidos por nossa justiça. Mas eu confio mesmo é na justiça divina. Desta, eu tenho certeza que eles não vão escapar", frisa Vanda, bastante emocionada. No início desse ano, a família de dona Vanda sofreu um novo abalo: Narcísio Pereira dos Santos, pai de Anderson, faleceu em 25 de janeiro, vítima de problemas de saúde que surgiram em conseqüência do brutal assassinato do filho. "Morreu chamando pelo Anderson e com a sensação de que os culpados pelas mortes dos meninos não seriam punidos", completa Vanda.

Para Sílvia Giordano, mãe de Thiago Passos, "os resultados desses julgamentos serão o retrato da sociedade que sonhamos e do nosso amadurecimento como cidadãos, conscientes de que a lei foi feita para todos". Segundo Sílvia, sua única esperança é a aplicação justa da lei. "Será meu único lenitivo, porque nada reporá as coisas como eram antes", completa.

"Este processo foi montado com bases sólidas, a partir de provas irrefutáveis, para que não haja risco de os acusados serem inocentados", afirma a deputada Prandi. À época da ocorrência do crime, Maria Lúcia intermediou audiências com o secretário estadual de Segurança Pública, Marco Vinício Petrelluzzi, com o secretário-adjunto, Márcio Papaterra Limongi, e com o então ouvidor da Polícia Militar, Benedito Mariano. A parlamentar lembra que estava com as famílias em uma reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa no dia em que os corpos dos três jovens foram encontrados. Foi ela a responsável por dar a notícia de que os cadáveres haviam sido localizados.

"Certamente, foi o dia mais triste de minha vida pública. O desespero dos pais não sai da minha memória" afirma, emocionada, a parlamentar, lembrando que o caso despertou a atenção da Anistia Internacional. Mais de duas mil correspondências, provindas de todo o mundo, mostraram solidariedade para com as famílias e exigiram a punição exemplar dos culpados. Prandi ressalta a eficiência com que as equipes do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Corregedoria da Polícia Militar e da Promotoria Pública, atuaram na busca de provas que não deixassem dúvidas quanto à autoria do crime.

O Crime. Na madrugada da quarta-feira de Cinzas, 17 de fevereiro, os adolescentes Anderson, Thiago Passos Ferreira e Paulo Roberto da Silva saíam do baile de Carnaval do Ilha Porchat Clube, em São Vicente, quando foram abordados por policiais militares, espancados e colocados com violência no compartimento de presos de uma viatura tipo Blazer, placas BRZ-8774, do Regimento de Cavalaria da PM. Foi a última vez em que foram vistos com vida. Quinze dias depois, os corpos dos três jovens foram encontrados, por uma equipe do DHPP, num manguezal, em Praia Grande. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou a causa das mortes: execução com tiros nas cabeças, com fortes indícios de espancamento.

Outros julgamentos. Os outros três policiais envolvidos no crime também serão julgados neste mês no Fórum de Praia Grande. No dia 17, será a vez do soldado Humberto da Conceição e, no dia 24, o júri proferirá seu veredicto em relação ao soldado Marcelo de Oliveira Christov. O último julgamento acontecerá dia 31 e envolverá o tenente Alessandro de Oliveira Rodrigues. Todos os julgamentos começarão às 9 horas. "É preciso uma ampla mobilização da sociedade para o acompanhamento desses julgamentos. Não podemos permitir que qualquer forma de pressão corporativa influencie o depoimento das testemunhas e interfira na decisão do júri", destaca Maria Lúcia Prandi, que estará ao lado das famílias durante os julgamentos. "É o encerramento de um ciclo, que esperamos acabe com a firme punição dos culpados", conclui.

(Mais informações, ligue para o gabinete da deputada Maria Lúcia Prandi - 3886-6848/6854)

alesp