CONSENSO METROPOLITANO - OPINIÃO

Vanderlei Macris
20/07/2001 16:50

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Quando, há mais ou menos três anos, foi solicitado ao saudoso governador Mário Covas que mandasse um projeto de lei, de sua autoria, para a Assembléia Legislativa de São Paulo criando a Região Metropolitana de Campinas, ele quis saber se havia na região unidade política para tal empreitada. O governador justificou que não iria criar mais uma região metropolitana - já havia outras duas, a da Grande São Paulo e a da Baixada Santista - , caso os prefeitos não estivessem unidos em torno de uma mesma proposta. Para provar que existia esse consenso eu e os demais deputados nos propusemos a levar os prefeitos até o governador para que ele pudesse ver com os próprios olhos que essa unidade existia realmente.

Isso aconteceu antes das eleições municipais de 2000. Naquele momento, a criação da RMC era o item prioritário na pauta das discussões dos prefeitos da região. Inúmeras reuniões foram realizadas, houve muitas divergências mas, finalmente, se chegou a um modelo que acabou sendo aprovado por todos. E então, depois de ter a certeza de que a região realmente ansiava pela metropolização, é que o governador mandou o projeto de lei para a Assembléia.

Não foi difícil a sua aprovação, mas logo vieram as eleições municipais e a aplicação da lei, sancionada em junho do ano passado, foi deixada um pouco de lado até que houvesse a definição do novo cenário político da região, uma vez que seriam os novos prefeitos, ou os reeleitos, que iriam de fato colocar para funcionar a RMC.

Vencidas as principais barreiras e resolvido um problema que se arrastava por mais de 10 anos, estamos agora diante de um novo impasse: A unidade política, que convenceu o governador de que a metropolização seria essencial para o desenvolvimento sustentado da região que mais cresce no país, está agora correndo o risco de tornar-se fragilizada pela disputa política que há entre os 19 prefeitos que compõem o Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Campinas.

Dizer que a RMC está fadada ao fracasso como declarou o prefeito de Campinas é acender o pavio para que isso realmente venha a acontecer. Não é esse derrotismo que vai alavancar a solução dos problemas que essas cidades tem em comum. A unidade política é essencial para que possa ser construído um modelo adequado de desenvolvimento metropolitano. Os interesses da região devem se sobrepor aos interesses dos prefeitos. Não é hora de vaidades, mas de racionalidade. Nossa região enfrenta problemas graves que vão piorar se não começarmos desde já a enfrentar um por um.

Há muitos projetos para serem elaborados e muitos problemas para serem discutidos. Temos sob nossa responsabilidade quase 2,5 milhões de habitantes. A região tem um pólo industrial bem estruturado, que cresce cada vez mais. Na mesma proporção crescem também os problemas. Os bolsões de miséria se alastram na periferia das cidades; desemprego, colapso nas áreas de segurança, saúde, educação e habitação. Não é fácil conter a evolução desses problemas; e deixar para mais tarde vai ser ainda mais difícil. O descontrole, que já existe, pode chegar a proporções que comprometam, para sempre, o desenvolvimento sustentado de uma região que tem condições de ter os melhores índices de qualidade de vida do país.



Vanderlei Macris é deputado estadual e ex-presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo

alesp