Cooperar para incluir

OPINIÃO - Arnaldo Jardim
08/07/2004 16:50

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Em uma economia mundial pautada pelo capitalismo "selvagem", onde as leis de mercado se sobrepõem ao interesse público e a sociedade caminha, a passos largos, para o individualismo exacerbado, uma alternativa se apresenta como luz no fim do túnel. Esta alternativa - o cooperativismo - não é nova. A bem da verdade, completa 100 anos de atividade no Brasil, mas nunca foi tão oportuna, principalmente, diante do atual momento do País.

Neste contexto, o cooperativismo de trabalho constitui uma proposta mais realista para combater o desemprego, pois seu modelo de organização pode contribuir muito para a inserção social de milhares de brasileiros excluídos da economia formal. Da mesma forma que o cooperativismo de crédito se apresenta como uma solução chave para contornar as altas taxas de juros, solução esta, reconhecida pelo próprio Presidente da República, em sua recente visita a sede da Organização das Cooperativas Brasileiras. Isto, sem falar das cooperativas habitacionais que respondem à necessidade para redução do déficit de moradia.

Mais do que um instrumento de geração de renda, trabalho e de materialização de justiça social, o cooperativismo também desempenha papel fundamental no desenvolvimento econômico. Basta olhar para os seus números em nosso Estado. Segundo a Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp), existem atualmente 1.025 cooperativas, com 2,3 milhões de cooperados, gerando 39,5 mil empregos diretos, que movimentam anualmente US$ 6,7 bilhões de faturamento e exportam cerca de US$ 1,2 bilhão. Estes dados econômicos falam por si. Todavia, mais relevantes são as conseqüências sociais, que levam oportunidade de emancipação e benefícios aos que realmente produzem e trabalham.

Mas se o cooperativismo apresenta resultados tão estimulantes, por que menos de 5% da população brasileira é associada em cooperativas? Porque, ao contrário da Constituição Federal, o poder público ainda não reconhece plenamente as cooperativas como extensão de seu cooperado e como entidades sem fins lucrativos, ou seja, uma incompreensão sobre o significado do "Ato Cooperativo".

Com o objetivo de superar os desafios impostos ao cooperativismo, apoiado por uma sólida parceria com a OCESP, reorganizamos a FRENCOOP - Frente Parlamentar do Cooperativismo Paulista, da qual sou coordenador e que conta hoje com 26 deputados estaduais compromissados com o desenvolvimento do cooperativismo em São Paulo, fazendo com que o Parlamento possa desobstruir entraves burocráticos, incorporando ao setor as políticas publicas necessárias ao seu pleno desenvolvimento. Outro aspecto importante para superar os desafios está na necessidade de promover o intercooperativismo, ou seja, a troca de informações e a articulação entre as cooperativas que atuam em diferentes áreas, esses são os compromissos da FRENCOOP.

Destaca-se ainda, o compromisso com a responsabilidade social. A adoção, por parte da Ocesp, do Manual de Indicadores de Responsabilidade Social, documento elaborado em parceria com o Fides (Fundação Instituto de Desenvolvimento Social), uma proposta inovadora, que visa identificar e aprimorar os trabalhos sociais dentro do sistema cooperativo. Há, também, a necessidade de investir na profissionalização da gestão, por meio do cadastramento junto a Ocesp. Com isso, estas poderão contar com a assessoria do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo - Sescoop/SP, órgão de capacitação, consultoria técnica e de promoção social das cooperativas.

Estamos às vésperas de eleições municipais, um momento propício para o movimento cooperativista cobrar dos candidatos a prefeito e vereador para incorporar a seus compromissos a bandeira do cooperativismo. Afinal, sabemos que muito ainda precisa ser feito para que a sociedade e o próprio poder público dêem as cooperativas o papel destacado na função que podem cumprir para alcançar o progresso do nosso País, do nosso Estado e dos nossos municípios.



Arnaldo Jardim é deputado estadual (PPS-SP) e coordenador da Frencoop Paulista

e-mail: arnaldojardim@uol.com.br.

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