O governador Alckmin apresentou recentemente um anteprojeto de lei para a reorganização da Região Metropolitana de São Paulo. A proposta traz mais problemas que avanços, mas abre espaço para discutirmos o futuro da Grande São Paulo e das 27 demais regiões metropolitanas do Brasil. Hoje, 70 milhões de pessoas vivem nessas regiões, que concentram boa parte do PIB nacional e onde são ainda mais fortes nossas potencialidades, conflitos e desigualdades.Os problemas das metrópoles extrapolam divisas, governos e ideologias. As soluções para as áreas de habitação, transportes, saneamento, empregos, segurança, saúde e tantas outras só virá com um pacto pela metrópole. A legislação que instituiu as regiões metropolitanas no Brasil é da década de 1970. Refletia os preceitos autoritários da ditadura e concentrava no Governo Federal o poder de criar as regiões " com a Constituição de 1988, essa atribuição passa aos Estados.A gestão dos problemas que extrapolam os municípios ganha novos espaços na década de 1990, como os comitês de bacia hidrográfica. Baseadas na cooperação entre a sociedade e os entes federados " municípios, estados e União ", tais iniciativas têm no Consórcio Intermunicipal do ABC um de seus exemplos mais exitosos.Os atores políticos, sociais e econômicos comprometidos em estabelecer no consórcio as prioridades para a região convivem, por outro lado, com dificuldades para financiamento das propostas ali consensuadas. E lutam para que as políticas do Executivo estadual não se choquem com as prioridades definidas no consórcio, cuja estrutura é complementada pela Câmara Regional e pela Agência de Desenvolvimento. Um exemplo é o recente anúncio de Alckmin sobre a criação de três unidades da Febem no ABCD, sem consulta ao consórcio.Tais dificuldades não escondem o fato de que os consórcios vão se consolidando como espaço de pactuação entre os poderes e a sociedade. Deve-se comemorar, portanto, a aprovação no Congresso Nacional, em março, da lei que estabelece normas para a celebração de consórcios entre os entes federados.A lei fortalece a opção de se construir acordos para a realização de serviços públicos nas áreas críticas. E permite um olhar mais contundente ao projeto de Alckmin para a reorganização da Grande São Paulo. O projeto autoriza o Executivo a criar para a região o Conselho de Desenvolvimento, uma autarquia voltada à gestão local e o Fundo de Desenvolvimento.Na proposta, nem a sociedade, nem o Governo Federal, nem o Poder Legislativo em geral participam do Conselho de Desenvolvimento, que contaria com os prefeitos da região e com representantes do governo do Estado. Além de nada democrática, essa constituição enfraquece não só o conselho, mas também o compromisso, a responsabilidade e o envolvimento dos setores excluídos.Aqui, é necessário destacar que a participação da União e da sociedade no conselho só é possível alterando-se a Lei Estadual 760/1994, que trata da organização regional do Estado. Haverá momento mais apropriado para essa alteração?A proposta é genérica também em relação a quem realmente terá poder de definir as políticas e os planos de investimento para a região. O Conselho de Desenvolvimento irá contar com quase 80 integrantes, o que dificultará as deliberações. Já o Conselho de Orientação do Fundo será composto por seis pessoas, sendo duas delas da autarquia e quatro do Conselho de Desenvolvimento. Nesses termos, sem maiores esforços, o Estado terá maioria no Conselho do Fundo. Não será nesta instância em que afinal vai se concentrar o poder de decisão?O projeto traz dúvidas também quanto aos recursos financeiros com que efetivamente o fundo poderá contar. Tal erro marcou a institucionalização das regiões metropolitanas de Campinas e da Baixada Santista, inviabilizando projetos definidos como prioritários pelos respectivos conselhos. Já os investimentos estruturais nas regiões continuaram a ser definidos apenas pelo governo do Estado, não passando pelos conselhos.Antes que essa nova organização da região se torne lei, é necessário todos nos envolvermos com os debates, corrigindo tais questões. A solução dos problemas da Grande São Paulo encontra-se em uma nova pactuação entre os entes federados e a sociedade. Uma solução a ser construída com olhos de hoje, e não os de 30 anos atrás.*Mário Reali é deputado estadual e presidente do PT-Diadema