Opinião - Saldo negativo nos seis primeiros meses do governo Alckmin


12/07/2011 10:01

Compartilhar:


Quando alguém fala "não sei por onde começar" quase que automaticamente o interlocutor responde: "Comece do começo, oras". E é sobre o "começo" do governo Geraldo Alckmin à frente do Executivo estadual que pretendo fazer uma avaliação.

Quando falamos de governo do PSDB em São Paulo estamos falando de seis meses de trabalho? Decerto que não. Alckmin iniciou um novo mandato em 2011, porém ele e o seu partido vêm governando o Estado há 16 anos. Este é o 17º ano de administração tucana em São Paulo. Portanto, problemas são velhos conhecidos do tucanato, assim como a renovação de promessas de soluções.

Avaliando esses seis primeiros meses da nova administração de Alckmin só posso concluir que o saldo é negativo. E exemplos não faltam para embasar essa análise. Vamos a eles.

Na área de educação, o governo anunciou aos quatro ventos que o reajuste aos professores seria de 42%. Desse índice, no entanto, temos que deduzir 5% do abono salarial que ele incorpora. O restante será dividido em quatro anos, e considerando a inflação que o próprio governo do Estado projetou o reajuste cai para 13%, o que significa um terço das perdas ocorridas durante o governo do PSDB imposto aos professores pelo arrocho das administrações tucanas. Nesse mesmo projeto do Executivo, o governador simplesmente ignorou reajuste aos funcionários e professores das Faculdades de Tecnologia (Fatecs), além de "esquecer" que a data-base é março, e não julho, como ele propôs. Nós, parlamentares da oposição, com muito custo, conseguimos trazer para junho, visando causar menor perda.

Na saúde, podemos destacar a falta de planejamento regional. Pude constatar isso quando, junto com a Frente Parlamentar do Vale do Paraíba, visitei alguns hospitais da região. No Vale, alguns hospitais reclamam que têm capacidade de atendimento, mas não podem atender porque o Estado não os credenciou no Sistema Único de Saúde (SUS), e os pacientes são transferidos para outras cidades. Não só o Vale, mas outras regiões do Estado, como o ABC, por exemplo, sofrem pela falta de planejamento regional.

Em relação à segurança, as manchetes dos jornais ilustram bem a situação do setor. A criminalidade só tem crescido no nosso Estado, com um número de mortes violentas cada vez maior. Em junho, pela estatística divulgada pela própria Secretaria de Segurança Pública, o Vale do Paraíba foi a região mais violenta do interior do Estado, registrando o dobro de homicídios em comparação com o mesmo período de 2010. Como membro da Comissão de Segurança da Assembleia Legislativa, participei de uma reunião com o secretário estadual de Segurança, Antônio Ferreira Pinto, e questionei quais seriam as ações do governo para diminuir a violência. O que vimos da parte do representante do governo estadual é que muitos problemas foram abordados como se fossem recentes. O secretário parece bem-intencionado, mas o partido que comanda o Estado é o mesmo há mais de 16 anos, e a questão da segurança não pode ser tratada como se fosse "descoberta" a partir de 2011.

Em relação a transporte, Alckmin disse que iria rever as concessões e tarifas de pedágio das rodovias do Estado. No entanto, a primeira coisa que ele faz é dar a notícia do aumento do tributo. Dentro desse tema, outro exemplo de problema que se arrasta sem que haja ações concretas em busca de soluções é a rodovia dos Tamoios, que liga o Vale do Paraíba ao litoral norte. Essa estrada, há muito tempo saturada, tem sido alvo de sucessivas promessas de melhorias por parte dos governadores tucanos, mas o que vemos são apenas anúncios " seja em palanque ou em publicações pagas em jornais. Anunciar como nova uma obra prometida pelo próprio Alckmin em 2002 é contar com a falta de memória da população.

Na área de saneamento, é triste ver um governo que está aí há 16 anos deixar que cidades do litoral norte sofram com a falta de água encanada. Ubatuba mesmo é um exemplo disso, com muitas comunidades vivendo com água de poço. Além disso, apenas 30% do esgoto produzido na região é coletado. Esse é um índice muito baixo para quem está no governo há tanto tempo.

Portanto, a avaliação só pode ser de saldo negativo. Não é possível que São Paulo, o Estado mais rico da nação, tenha os piores salários pagos aos professores, o 19º salário do Brasil pago aos delegados e que não tenha política para a juventude.

A gente espera que nesses três anos e meio que restam para acabar esse governo que ele possa tentar recuperar o tempo perdido. Não é justo que a população de São Paulo sofra ainda mais com os desmandos, o desgoverno do PSDB. Que o povo possa ter retorno da confiança depositada nas urnas e também dos altos impostos e pedágios que paga no Estado.



*Marco Aurélio de Souza é deputado estadual pelo PT, foi vereador por duas vezes (1993-2000) e prefeito de Jacareí também por duas vezes (2001-2008).

alesp