PALPITE INFELIZ - OPINIÃO

Milton Flávio*
31/07/2001 15:15

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Está lá, no Aurélio, com todas as letras: palpite é opinião de quem se intromete ou não entende do assunto; opinião equivale a parecer, conceito. De um candidato a presidente da República, portanto, é de se esperar mais opiniões que palpites.

Lula, no entanto, parece pensar o contrário. Agora mesmo, conforme noticiaram os jornais, ele acaba de emitir um palpite de extrema infelicidade. Segundo ele, o "salário mixo" justifica a greve de policiais militares. "A PM pode fazer greve", declarou aos repórteres. "Minha tese é de que todas as categorias de trabalhadores que são consideradas atividades essenciais só podem ser proibidas de fazer greve se tiverem salário essencial."

Deixemos de lado o linguajar trôpego, e vamos aos conceitos. Em primeiro lugar, não me parece que quem emite palpites seja exatamente a pessoa mais apta a formular teses. Seja como for, uma tese, por melhor que seja, não pode se sobrepor à lei. E a lei, como se sabe, proíbe a greve de policiais, estejam armados ou não, estejam encapuzados ou não. É de se esperar que a bancada do PT no Congresso Nacional já esteja elaborando alguma proposta que permita a greve de PMs, para submetê-la à apreciação dos congressistas e da opinião pública.

Acrescente-se o fato preocupante de que o virtual candidato do PT à Presidência República, salvo engano medonho, parece acreditar que leis são detalhes, pois o que lhe importa são suas teses. Se leis são inadequadas, devem ser alteradas, aperfeiçoadas, revogadas. Mas é inconcebível que sejam desrespeitadas, a não ser que se queira transformar o país numa terra-de-ninguém.

Não há dúvidas de que os policiais civis e militares - assim como a esmagadora maioria do funcionalismo público - ganham pouco. Mas, afinal, seria de grande utilidade a todos nós que Lula explicasse em detalhes e, se possível, com valores exatos o que vem a ser um "salário essencial". Detalhado esse conceito, seria igualmente interessante que ele nos explicasse como faria para conceder aumentos generosos para todos os policiais, a fim de que todos tivessem, enfim, "salários essenciais".

Pelo que Marta Suplicy tem feito em São Paulo, é de se supor que para o PT só os amigos, os que ocupam cargos de confiança - e que, portanto, estão dispensados de concurso público - merecem "salários essenciais". Como se recorda, a prefeita concedeu 40% de aumento para uns poucos, os que foram indicados por seu partido e legendas aliadas. Para os demais, concedeu 3%.

É de se deduzir que, para Lula e seguidores, "salários essenciais" só para os amigos. Ainda bem que não se multa quem emite palpite infeliz. Luís Inácio estaria, financeiramente, arruinado.

*Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB e presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Assembléia Legislativa de São Paulo.

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