Ex-gerente da CDHU denuncia cobrança de propina na empresa

(com fotos)
28/06/2002 20:33

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Declarações foram feitas à Comissão de Serviços e Obras Públicas, confirmando matéria publicada no jornal Vale Paraibano

DA REDAÇÃO

O ex-gerente regional da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) em Taubaté, jornalista João Maroun Bouéri Neto, foi ouvido na tarde desta sexta-feira, 28/6, em reunião extraordinária da Comissão de Serviços e Obras Públicas, presidida pelo deputado Antonio Mentor. Bouéri prestou esclarecimentos sobre fatos relatados por ele na edição de 12 de junho do jornal Vale Paraibano, sobre a existência de um suposto esquema de cobrança de propina que envolveria funcionários da CDHU.

"Fiz as denúncias porque acho que isso pode moralizar o Poder Público em São Paulo. Fiz um artigo mostrando a minha decepção por ter participado deste governo", disse Bouéri, fundador do PSDB, partido do governador Geraldo Alckmin, no município de Aparecida, e pai de 5 filiados ao partido.

Cobrança de propina

Segundo Bouéri, às vésperas da eleição de 1998 a Construtora Estrela, que construiu 1.200 casas, sofreu um achaque por parte de um dos diretores da CDHU, que teria pedido R$ 72 mil a título de caixa de campanha a um diretor da empresa em São Paulo. Os aditamentos ficariam vinculados ao pagamento da "caixinha". Consultada a matriz da empresa em Fortaleza, teria sido autorizado que se fizesse a denúncia junto à presidência da CDHU. Bouéri falou que procurou Goro Hama, presidente da CDHU à época e relatou a denúncia recebida. Hama não teria se manifestado a respeito. "Fui então ao Palácio dos Bandeirantes, acompanhado de uma funcionária da CDHU, Gílcia Gil, e contei ao governador Alckmin, que havia assumido em decorrência da licença médica de Covas. Ele também não tomou nenhuma providência."

Sobre a falta de providências por parte do governador Geraldo Alckmin, Bouéri afirmou que cobrou pessoalmente o governador diversas vezes.

O jornalista e ex-gerente da CDHU afirmou ainda que ficou sabendo de outras tentativas de cobrança de propina na sua região, como a que teria ocorrido com a Construtora Menin, de Marília, subempreitada pela construtora Conturse, de Brasília, responsável pela construção do empreendimento Bandeira Branca II, em Jacareí, com 640 apartamentos. "Para cada unidade, com valor de R$ 19 mil, a Menin teria de pagar 7% para poder receber o restante da dívida da CDHU para com ela. Outro caso teria ocorrido com a construtora Fox, de São José dos Campos, também em uma obra subempreitada de uma construtora de Piracicaba, em Queluz. Neste último caso, o diretor da Fox não teria pago nada, mas relatou que foi abordado e cobrado pela ganhadora da concorrência, que teria de repassar o dinheiro.

Sem provas

Bouéri fez questão de dizer que não tem meios de provar o que afirma. "Tenho apenas testemunhas sérias. Bandido não passa recibo."

De acordo com o denunciante, durante a gestão do ex-governador Mário Covas a vigilância e o acompanhamento era feito, de perto, pelo próprio governador, que exigia transparência em todas as ações. "Durante o primeiro mandato de Covas, o governador entregou 120 mil residências", falou, lembrando que o ex-governador prometeu em sua campanha pela reeleição que em seu segundo mandato construiria mais 250 mil unidades habitacionais.

Indignação

Bouéri justificou sua atitude de denunciar o esquema por ter ficado indignado com o número de casas que foram construídas durante o segundo mandato, que teve início com Covas e se encontra com Geraldo Alckmin. "Fiquei revoltado com a avalanche de publicidade mentirosa, dizendo que a CDHU é a maior empresa de construção e que fez 150 mil casas em sete anos. Ou seja, se havia entregue 120 mil nos primeiros quatro anos, construiu apenas 30 mil nos últimos quatro." Bouéri disse que quer saber onde foi parar o dinheiro do ICMS.

O jornalista do Vale Paraibano, que deixou o PSDB quando voltou a assumir sua função no jornal ao deixar a gerência da CDHU, deixou no ar o vínculo das denúncias ao gerenciamento de obras da CDHU pela empresa Ductor. A denúncia lhe teria sido feita por um engenheiro da Ductor.

Propostas

Os membros da comissão apresentaram diversas propostas para dar continuidade ao acompanhamento do caso: convidar a funcionária da CDHU Glícia Gil para prestar esclarecimentos, solicitar à empresa informação sobre o número de casas entregues de 1994 a 2002, mês a mês, com custo unitário, qual o valor licitado empenhado por programa da CDHU, qual o gasto mensal com publicidade, cópias dos processos vencidos pelas empresas mencionadas, qual o gasto anual com habitação e sua relação com a arrecadação do ICMS. Foi sugerido ainda que se estude se a Comissão têm competência legal para solicitar à Junta Comercial de São Paulo a cópia da formação societária da Ductor, seu histórico, suas relações com o governo e suas relações empresariais. O ex-vice-presidente da CDHU, atual prefeito de Itu, Lázaro Piunti, também deverá ser chamado à depor na Comissão.

Participaram da reunião, que continuou a portas fechadas para que Bouéri apresentasse os nomes das pessoas que lhe deram as informações, os deputados Salvador Khuriyeh (PSB), Carlinhos Almeida (líder do PT), Daniel Marins (PPB), Henrique Pacheco (PT), Newton Brandão (PTB), Ary Fossen (PSDB) e Wadih Helú (PPB).

alesp