PÉS DE BARRO - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
05/07/2000 16:42

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No ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, de 2000, o Brasil apresentou uma ligeira melhora, passando da 78.ª para 74.ª posição, o que o mantém entre os países com IDH médio.

Em contrapartida, o Brasil integra o grupo de 69 países, cuja classificação pelo Produto Interno Bruto (PIB) per capita é melhor do que a do IDH e isso significa que o País não está conseguindo converter seus resultados econômicos em melhores condições de vida para o seu povo. É importante ressaltar ainda que existem 97 países cuja situação é inversa, ou seja, têm uma classificação melhor no IDH em relação ao PIB per capita. Esses países com certeza estão cuidando melhor da distribuição de renda e se preocupando mais com as questões sociais.

Em termos de desigualdades, só 5 países estão em situação pior do que a nossa (Paraguai, Guatemala, República Centro-Africana, Jamaica e Serra Leoa). Somos os campeões da exclusão social e podemos dizer sem orgulho nenhum que os nossos ricos são mais ricos e os nossos pobres são mais pobres.

Para aqueles que vivem afirmando que o Brasil está trilhando o caminho do crescimento econômico, a resposta é uma só: podemos até estar crescendo, mas estamos fazendo de uma forma totalmente equivocada, não democrática. Estamos crescendo com o aprofundamento das desigualdades, com acessos diferenciados às questões básicas como saúde e educação, configurando um crescimento com os "pés de barro", sem sustentabilidade.

Mesmo no interior de São Paulo, que é comparado aos países mais desenvolvidos, temos verificado a manifestação desse modelo de desenvolvimento perverso e, o que até pouco tempo tinha prosperidade, está sendo invadido por crescentes índices de criminalidade e bolsões de miséria.

Esta lógica precisa ser invertida e é por isso que, no Fórum Parlamentar São Paulo Século XXI, da Assembléia Legislativa, do qual tenho a honra de ser o relator geral, estamos propondo um novo índice de desenvolvimento nos moldes da ONU, para que o crescimento paulista seja medido de forma qualitativa e não simplesmente levando-se em conta os aspectos quantitativos.

Queremos para São Paulo e para o Brasil um desenvolvimento com qualidade, alicerçado na diminuição da mortalidade, na multiplicação do acesso à educação e fundamentalmente baseado na melhoria das condições de vida da população. Enfim, nossa visão de desenvolvimento precisa fugir da miopia e do imediatismo e, ao invés de olhar para a próxima eleição, estar preocupada com a próxima geração.

Arnaldo Jardim é engenheiro civil, ex-secretário da Habitação (1993), presidente estadual do PPS, deputado estadual e relator geral do Fórum São Paulo Século XXI.

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