O realismo de Elena Nikítina nos transporta às fronteiras do fantástico e do imaginário

Emanuel von Lauenstein Massarani
28/04/2003 16:04

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O realismo nasceu na Alemanha por volta de 1925 do enorme vazio que o término da 1ª Guerra Mundial deixara. Recuperação da vida queria dizer a recuperação da realidade. O elemento fundamental da nova arte era o contraste e a reação ao expressionismo. Esse realismo, identificado como "Neue Sachlichkeit", isto é, nova objetividade ou realidade, foi usado pela primeira vez em 1923 pelo crítico alemão G.F. Hartlaub.

Se "a arte somente alcança um alto grau de perfeição tão-somente quando se assemelha fortemente à natureza e a tomamos como sendo ela própria", conforme afirmava Ingres, o grande pintor francês, assim também é a obra de Elena Nikítina. Essa artista cultiva a arte do realismo e do "trompe-l'oeil" e dela exige a maior "finesse" na execução, destinada a manter para o espectador uma impressão de relevo imediato. Essa ilusão provém sobretudo de seu distanciamento da obra.

De formação realmente realista, Nikítina cristaliza sua criação em torno de dois temas fundamentais: os seres humanos e a natureza. Existem pintores para quem o objeto conta pouco e que empenham toda sua energia para melhorar sua própria técnica. Existem os que, como Nikítina, ampliam o conteúdo de sua arte aperfeiçoando a maneira de representar uma diversidade de idéias através de um cromatismo excepcional e envolvente.

Toda ambigüidade e o mistério poético da pintura dessa artista residem no seu desejo de superar o simples domínio das coisas. Ela nos transporta às fronteiras do imaginário e do fantástico, passando além das aparências.

Associando em sua obra toda a tradição, a poesia e mesmo à espiritualidade dos grandes pintores paisagísticos à técnica e ao realismo ocidental, seu gênero possui um impacto indescritível sobre o espectador que o conduz à alegria e à ternura. Pintora do realismo do coração e da razão, suas obras encarnam o ser humano e suas paixões. Apaixonada pela natureza, o amor de Elena Nikítina é sem ilusão.

O quadro As rosas falam, doado ao Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho, foi objeto de longas e minuciosas operações sucessivas. Detalhando o conteúdo poético de certas partes, coloca-as sob uma exteriorização luminosa que nos permite participar do espetáculo real e nos alegra o coração e o pensamento.

A Artista

Elena Nikítina nasceu em Moscou em pleno Natal de guerra de 1940. Formou-se pintora e desenhista pela faculdade de Belas Artes de Moscou, em 1967. A partir 1973 trabalhou como artista plástica na seção de publicidade da Exposição Permanente de Economia Nacional da União Soviética, como cenógrafa na redação de programas culturais da Emissora Central de TV de Moscou e assumiu a cátedra de Pintura, Desenho e Composição da Faculdade de Artes e Ofícios de Moscou, onde lecionou até 1976.

Nessa época, sua vocação de artista começa a se nutrir do desejo de transmitir seus conhecimentos a outras pessoas. Nesse mesmo ano de 1976, transplanta suas raízes russas para terras paulistanas, onde prossegue pintando e sendo freqüentada por muitos alunos. Em 1983, excepcionalmente, aceitou um convite do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, onde ministrou Desenho Artístico e Pintura até 1985. No ano de 1999, seus trabalhos foram publicados no livro Brazilian Art Book, G & A Editorial Brasil/ G & A Publishing Corp. Estados Unidos.

Possui obras em coleções particulares de São Paulo e Rio de Janeiro. Participou de numerosas mostras coletivas e individuais no Brasil e no Exterior, destacando-se entre elas: Mostra individual de tapeçaria manual na exposição Permanente da Economia Nacional da União Soviética (1967); Exposição individual na Faculdade de Belas Artes em Moscou (1968). Recebeu seu primeiro prêmio no Salão de Jovens de Leningrado, atual São Petersburgo (1971). Possui trabalhos nas associações de artistas de Kiev (Ucrânia), Tbilissi (Geórgia), Erevan (Armênia), Riga (Letônia) e Minsk (Bielo-Rússia). Suas obras encontram-se também nos Museus de Arte e Ofícios de Moscou e Leningrado, São Petersburgo, nos Museus de Arte Russa de Vladimir e Suzdal, e em numerosas coleções particulares (1973 à 1975). Esteve presente na Mostra internacional "Mensajes del Mundo", promovida pelo The San Francisco Museum of Contemporary Art, San Francisco, Estados Unidos (1999).

No Brasil participou do 2º Festival de Artes Plásticas de Penápolis - SP (1977); 2º e 3º Salão de Artes Plásticas de Presidente Prudente - SP (1979 e 1980); exposições nas galerias de São Paulo, Campinas São José do Rio Preto, Bertioga (Sesc), Curitiba e Porto Alegre (1977 e 1979), Galeria Itaú. Na Galeria Uffizi, em Curutiba, esteve na exposição coletiva "Doze Mestres da Pintura" (1987). Também participou da 17ª Exposição de artistas contemporâneos, promovida pela Sociedade Amigos da Arte de São Paulo e Galeria de Arte André (1998); "Surrealismo" na Galeria André, em São Paulo (1999), e Mostras anuais na Chapel School, São Paulo.

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