Jornada por cotas nas universidades mobiliza movimentos sociais nos 116 anos da Lei Áurea


12/05/2006 16:52

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Durante coletiva à imprensa realizada na Assembléia Legislativa nesta sexta-feira, 12/5, representantes dos movimentos negro e estudantil explicaram o pensamento que norteia a Jornada por Cotas e Reserva de Vagas. Entidades ligadas ao movimento programaram manifestação entre 12 e 13/5, aproveitando a passagem das comemorações da Abolição da Escravatura, que completa 116 anos, pelo direito a vagas nas universidades para afrodescentes, indígenas e alunos formados pela rede pública de ensino. A manifestação acontece em diversas cidades brasileiras.

Segundo Rafael Pinto, da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), as cotas nas universidades são necessárias porque pobres, negros e índios, historicamente, não têm acesso a elas. "As cotas são um meio de democratizar um bem público: o ensino universitário", defendeu. Pinto disse que, para ele, o modelo de escola vigente no Brasil não contempla os matizes da sociedade brasileira e que se faz necessária uma ampla reforma em todo sistema educacional, a partir de uma releitura da história nacional. "O modelo universitário brasileiro é europeu. Vivemos dizendo que somos negros e índios, além de brancos, mas isso não se reflete nos meios acadêmicos", finalizou.

Flávio Jorge Rodrigues da Silva, do Conen, resumiu a situação dos estudantes afrodescentes no Brasil: "Até o primário (metade do ensino fundamental), o grupo de alunos negros vai acompanhando o de alunos brancos. A partir daí, é um funil até a universidade". Formado pela PUC de São Paulo, Silva informou que em sua época de estudante (1981) foi realizado um censo dentro da universidade que constatou que no curso de medicina não havia nenhum aluno negro, no de psicologia, apenas uma estudante afrodescendente, e no de fonoaudiologia, nenhum. "As cotas têm a ver com isso: serve para que mais dessas pessoas também tenham acesso ao ensino superior", concluiu Silva.

Do Movimento dos Sem Universidade (MSU), Sérgio José Custódio explicou os motivos da jornada. "Precisamos de uma nova abolição. A de 1888 está inconclusa, não semeou direitos. A jornada é também um recado para os parlamentares da Assembléia, das câmaras municipais e do Congresso Nacional, pois nestas casas é que se faz a legislação. E para haver cotas são necessárias leis que as instituam", declarou. Custódio lembrou que, desde que a primeira lei de proibição do tráfico de escravos foi aprovada, levou-se 38 anos para que a Lei Áurea fosse discutida até ser finalmente aprovada. "Será que os políticos desejam que a população espere mais 116 anos ou pretendem discutir por mais 38 as cotas?", questionou. (Leia abaixo a programação completa da Jornada, na Capital).







Jornada pelas cotas e reservas de vagas

PROGRAMAÇÃO



Das 13h às 14h " Coletiva à imprensa

Local: Assembléia Legislativa de São Paulo

Das 17h às 18h30 " Concentração e caminhada da Praça da República até a Faculdade de Direito do Largo São Francisco

19h " Ato Público na Faculdade de Direito do Largo São Francisco

20h em diante " Participação nas atividades da Marcha Noturna 10 anos de Luta pela Democracia Racial, com o tema: "Cotas: Afirmando Direitos e Construindo Políticas Públicas"

Local: Igreja da Boa Morte, rua do Carmo " Centro

Entidades que realizam a jornada:

Agentes de Pastoral Negros do Brasil " APNs

Associação Brasileira de Pesquisadores Negros " ABPN/Seção São Paulo

Centro Cultural Afro-Brasileiro Francisco Solano Trindade

Círculo Palmarino

Coordenação Nacional de Entidades Negras " Conen

Educafro

Fórum Estadual de Mulheres Negras de São Paulo

Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial " Inspir

União de Negros pela Igualdade " Unegro

Movimento dos Sem Universidade " MSU

União Nacional dos Estudantes " UNE

União Brasileira dos Estudantes Secundaristas " Ubes

União Estadual de Estudantes " UEE/São Paulo

alesp