FELIZ ANO NOVO - OPINIÃO

Vitor Sapienza*
20/12/2000 15:35

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A velocidade com que os acontecimentos e os dias passaram neste ano pode servir como um indicativo para que qualquer cientista, mistificado de professor pardal, reveja seus mais primitivos conceitos, principalmente aqueles que colocam o homem fabricando seu produto final de forma desordenada, desafiando todas as regras da natureza. Passando por cima de qualquer obstáculo para atingir seu objetivo. Seja pessoal, político, ou do grupo que representa. Perdeu-se muito o sentido da interpretação da ética como ponto de partida para qualquer tratativa entre os homens. Este ser é tratado de acordo com as conveniências de grupos que se revezam segurando o bastão do poder. Errou quem estava de plantão esperando o desfecho das sextilhas anunciadas ou indicadas pelo futurólogo Nostradamus, em que, no ano 2000, o mundo deixaria de existir e tudo seria dizimado pela força maior.

Foi um ano difícil este de que estamos nos despedindo, o brasileiro teve que provocar adaptações em sua vida por conta de influências internacionais. As eleições anunciaram que uma mudança radical será necessária, até porque a paciência do povo chegou além do limite. Aturou a tudo, sem derramar lágrimas, sem derramar sangue. Apenas apertou o botão do basta na urna eletrônica. Cabendo agora, a quem assumir o comando da mudança, a responsabilidade de ter a estrutura. Ter a coesão partidária e ideológica, no sentido de atender a este telefonema que o povo deu ao poder. O poder não é difícil de conquistar. O difícil do poder é a sua perpetuação. É a manutenção dentro de uma coerência e sintonia social com os reclames do povo. É, acima de tudo, o fazer, de acordo com a solicitude. Não podemos mais conviver ou deixar que os excluídos vivam dos favores ou das mazelas, como se fossem um peso para os governantes.

Os partidos, por sua vez, também vão tentando de forma lenta conseguir um assentamento para que não fiquem fora do foco logístico do momento. Longe do fisiologismo e distante dos acordos de gabinete, mostrando que política também se faz com clareza e dignidade. Há sim, um imenso caminho para que possamos, no mínimo, construir uma democracia de fato e de direito. Esta que conquistamos ainda está dando seus primeiros sussurros. O país tem dado sinais de moralização. Vários segmentos nocivos à sociedade foram banidos ou presos. Aqui mesmo na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, a CPI do narcotráfico presidida pelo deputado Dimas Ramalho, chegou a resultados surpreendentes nas várias cidades onde o crime organizado estava plantado. Isto é um avanço. Muito se tem que fazer, mas sempre é preciso dar o primeiro passo sem medo de cair.

Por fim, não poderíamos deixar de focar a situação mundial, que tomou proporções preocupantes neste início do novo milênio. A globalização não se firmou como salvadora da pátria. Mas, sim, conservou e aumentou o poder econômico das grandes potências, dando-lhes o instrumento de decisão sobre o sobe e desce do mercado econômico mundial. Enquanto a casta econômica tem o poder de controlar a dança das bolsas de valores do mundo inteiro, crianças agonizam em Angola, vivenciando uma situação total de miserabilidade, sem nem sequer receber o mínimo tratamento que um ser humano merece. Questiona-se quem representa a ONU, onde todos colaboram e poucos se beneficiam. Não queremos enxergá-la desacreditada, mas como a fiel depositária e responsável pela dignidade humana em toda a sua plenitude. Feliz ano novo.

*Vitor Sapienza é deputado e líder do PPS na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.

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