O NOME DA ENCRENCA - OPINIÃO

Milton Flávio*
24/01/2001 16:02

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Não está no "Aurélio". Mas podem acreditar: vice é um dos sinônimos possíveis para encrenca. Ao menos no Brasil. Lá fora também parece que é assim. Deixemos, no entanto, os assuntos internacionais para quem é do ramo, já que o tema é de extrema complexidade.

Virou, mexeu, bote reparo, o vice dá um trabalho danado ao titular - seja vice-prefeito, vice-governador, vice-presidente, vice-síndico, ou vice-concunhado, essa espécie de vice-rei da família, aquele que ganha mimos da cunhada e não precisa tolerar a sogra, mas que um dia - e sempre tem um dia - reivindica parte da herança. Vice, meus amigos, é vice, fonte de problemas, sinônimo de encrenca. E ponto final. As exceções só confirmam a regra. Se algum presidenciável quiser o governador de Minas como vice, que se apresente...

Ninguém ignora a principal razão porque o vice é uma fonte eterna de problemas. Para início de conversa - e isso deve ser obra de marqueteiros e de cientistas políticos -, o vice, em geral, é a negação do titular. Se o candidato é gordo, branco, careca e casado, o vice, segundo a lógica marqueteira, deve ser negro (ou pardo), cabeludo e solteiro, praticamente a sua antítese. Ou, então, tem que ser mulher. Se o candidato é tímido, o vice tem de ser falastrão. Se um é de "direita", o outro deve ser de "centro-esquerda", já que a esquerda, sabe-se há tempos, só se une na prisão. E olhe lá. Além disso, o vice está sempre na expectativa de ocupar um cargo que, no frigir dos ovos, ninguém lhe delegou. Você já votou num vice?

Ou seja, salvo raras exceções, nós votamos num candidato e se houver algum problema que o impeça de cumprir o seu mandato até o final, teremos que nos contentar com o seu oposto. Mal comparando, é o mesmo que o sujeito pedir uma rabada e ter que engolir um filé de frango na grelha. O frango na grelha pode até ser mais saudável que a rabada, mas só um idiota há de negar o direito sacrossanto de qualquer cidadão entupir suas artérias de gordura.

O objetivo dessas linhas, porém, não é maldizer os vices. Ao contrário. É elogiar a conduta dos que fogem às regras. É ressaltar a grandeza dos que - maduros, leais, discretos - sabem que na política, ao contrário da antiga canção de protesto, nem sempre se pode fazer a hora. Às vezes, ou quase sempre, é preciso esperar acontecer. Por uma questão de bom-senso, educação, lealdade.

O objetivo desse texto é também reconhecer a importância da teimosia, grandeza e visão de um homem chamado Mário Covas, que, contrariando as normas ditadas pelos marqueteiros, escolheu como vice alguém absolutamente afinado com suas propostas, com os ideais do PSDB, com a ética, com a moralidade administrativa. O vice-governador Geraldo Alckmin reúne todas as condições para substituir com grandeza o titular, durante o período em que ele estará afastado para cuidar de sua saúde. E o diferencial não está em sua - a de Geraldo Alckmin - competência e experiência políticas inquestionáveis. Está em algo que só uns poucos, quer na vida pública, quer na vida privada, sabem exercer: o exercício da absoluta lealdade.

Vice, como já se disse, é quase sempre sinônimo de encrenca. Mas, há exceções, graças a Deus.



Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB e líder do governo na Assembléia Legislativa de São Paulo

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