Não vamos fugir do assunto. Aids é um tema de todos


22/08/2008 18:43

Compartilhar:


Os anos 80 chegaram para os brasileiros como um tempo para respirar, falar, compor, amar, votar: Diretas Já! Chegou com o apelo de cantar com os Titãs, Paralamas e Kid Abelha; de brincar com He-Man e os Defensores do Universo, e querer voltar para casa com o esquisito (e adorável) ET, o extra-terrestre que Spielberg imortalizou nas nossas fantasias.

Mas a década de 80 foi também aquela em que acordamos para uma sentença de morte que não era uma metáfora. Ela tinha um nome que nem de longe dava o tom da tragédia: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids). Tinha uma cara (cadavérica), que se tornou emblemática no cantor e compositor Cazuza. E tinha um endereço: a relação sexual, especialmente entre homossexuais, estigmatizando esse segmento social de maneira cruel.

Nossos ídolos já não são mais os mesmos, contradizendo Belchior, e também o nosso comportamento em rela­ção à Aids mudou, porque a ciência trabalhou para tornar a doença não mais um sinônimo de morte. Pesquisas em todo o mundo levaram à descoberta de medicamentos poderosos, instituições públicas e grupos não governamentais se estruturaram para atender os soropositivos e campanhas de impacto passaram a alertar sobre comportamentos de risco.

Mesmo assim, pessoas continuam morrendo com Aids. Foram mais de 190 mil até 2006. Dados do Ministério da Saúde apontam para uma estabilização na incidência da doença, nas regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste, mas ela cresce no Norte e Nordeste. De 1980 a 2007 foram notificados 474.273 casos de Aids no país e a Organização Mundial de Saúde registra que no Brasil há uma epidemia concentrada na população de 15 a 49 anos.

Em dezembro de 2007, participei de um debate na TV Assembléia pelo Dia Mundial de Luta Contra a Aids, e naquele encontro outros dados preocupantes foram apresentados pelos representantes do Fórum ONG de Aids de São Paulo e do Projeto Solidaried"Aids. Por mais enfáticas que sejam as campanhas, os jovens têm passado longe desse apelo e desprezam a orientação do sexo seguro. Valores equivocados e cultivados por meninos e meninas " como concordar em fazer sexo sem preservativo para não perder o parceiro " se sobrepõem ao inestimável do valor da vida, confirmando os números da OMS.

Falta conscientização, concordamos todos naquele programa de televisão. Falta a linguagem que conquiste o jovem nas campanhas institucionais; falta a discussão em sala de aula e, sobretudo, falta a conversa aberta e franca entre pais e filhos, um reduto onde a sexualidade ainda é bicho de muitas cabeças! E faltava também trazer esse debate para a Assembléia Legislativa de São Paulo, abrir as portas desta Casa para discutir com naturalidade um tema que atinge todos nós, independente do que nos diferencia.

A morte é democrática. Chegará para todos, em um momento que escapa ao nosso poder. Mas quando se trata da Aids e das doenças sexualmente transmissíveis, temos sim o poder e o dever de comunicar, pesquisar, convocar, nos solidarizar, esclarecer e acolher todos que possam e queiram contribuir com a Frente Parlamentar DST/Aids, que me coube lançar no Parlamento paulista. A proposta nasceu lá, no programa de TV, e deverá crescer e se fortalecer com a energia de quem luta pela vida.

(A Frente Parlamentar DST/Aids foi lançada dia 21 de agosto de 2008, no Auditório Franco Montoro da Assembléia Legislativa de SP)

*Bruno Covas é deputado estadual pelo PSDB e presidente nacional da Juventude PSDB

alesp