DA REDAÇÃOA Frente Parlamentar Pró-Envelhecimento Saudável, presidida pela deputada Maria Lúcia Prandi (PT), discutiu na tarde desta quinta-feira, 14/3, o Estatuto do Idoso, no auditório Franco Montoro da Assembléia Legislativa. O Estatuto, que pretende transformar em lei federal os direitos dos idosos, está previsto num projeto de lei de autoria do deputado federal Paulo Paim (PT-RS), com substitutivo do deputado federal Silas Brasileiro (PMDB-MG), e abrange outros sete projetos semelhantes. A proposta, que é de 1997, está há sete meses pronta para a ordem do dia na Câmara dos Deputados, mas ainda não foi colocada na pauta de votação."A lei é um instrumento para que os direitos sejam garantidos na prática. Temos de ter garantida a nossa cidadania em qualquer etapa da vida", lembrou a deputada Prandi ao iniciar a reunião, após apresentação do coral da Terceira Idade Os Sapecas, formado por idosos do Círculo de Trabalhadores da Vila Prudente, em São Paulo.DireitosO advogado Flávio Caetano, representante da Subcomissão dos Direitos da Terceira Idade da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), fez uma explanação sobre o conteúdo do Estatuto do Idoso. "A grande discussão não é mais ter os direitos escritos, colocados no papel, mas implementá-los", disse. O representante da OAB lembrou que o Brasil tem uma legislação exemplar, que não funciona tão bem na prática.Para Caetano, o estatuto ainda não foi votado por esbarrar em resistências dos parlamentares da situação em, principalmente, dois pontos: a vinculação do valor da aposentadoria ao salário mínimo e a gratuidade do transporte coletivo. O primeiro ponto abordado por Caetano a respeito do estatuto é a definição de quem é idoso. A partir da aprovação do PL e sua transformação em lei, fica estabelecido que idoso é aquele com 60 anos ou mais. Os direitos fundamentais do idoso também foram especificados no estatuto. Entre eles, o direito ao alimento, que passa a ser uma obrigação legal dos filhos, que poderão, inclusive, ser executados judicialmente caso não a cumpram. Será uma obrigação solidária, ou seja, quem escolhe qual dos filhos vai alimentá-lo é o próprio idoso. Direitos já previstos na Constituição federal também foram ressaltados no estatuto, segundo Caetano. Com a aprovação da lei, ao direito universal à saúde se agrega o de ter acompanhante em tempo integral, salvo se a situação médica não permitir. Além disso, o idoso terá direito a atendimento domiciliar, medicamentos, órteses e próteses, cadeiras de rodas e assistência odontológica gratuita. Ainda no parágrafo saúde, o PL prevê que Geriatria e Gerontologia façam parte das disciplinas básicas nas faculdades de Medicina. Outro ponto importante é que os planos de saúde não poderão mais ter faixas diferenciadas de cobrança em razão da idade.O Estatuto, segundo o advogado Flávio Caetano, estabelece ainda que os idosos tenham acesso à educação, abrangendo os avanços tecnológicos de forma que aqueles que têm mais de 60 anos não fiquem marginalizados, sentindo-se como "analfabetos digitais". A educação dos jovens voltada para o respeito aos idosos também não foi esquecida no texto do PL: noções de respeito devem ser incluídas nos currículos mínimos do 1º grau.Visando a melhoria das condições para o lazer e a cultura, além do transporte gratuito, os idosos terão direito a descontos de pelo menos 50% no valor dos ingressos para shows, teatro, cinema etc. A gratuidade do transporte coletivo urbano, aplicada hoje em algumas cidades e estados, passará a ser lei em todo o país, e os idosos terão garantida a destinação de 10% dos assentos em cada veículo. No caso do transporte intermunicipal e interestadual, haverá duas vagas que, igualmente aos demais lugares ocupados por idosos deverão ter desconto de 50%. A comodidade dos que se locomovem em veículos próprios não ficou de fora do PL: os estacionamentos públicos e particulares deverão resguardar as vagas que permitam maior facilidade de locomoção para as pessoas com mais de 60 anos de idade. "Fica vedada a discriminação por idade máxima para ingressar no serviço público", afirmou Flávio Caetano. De acordo com ele, em caso de empate em concurso público, o cargo ficará com a pessoa idosa. Além disso, será estabelecida a cota de 5% das vagas das empresas públicas e das prestadoras de serviços ao governo.O sistema de cotas também deverá ser aplicado para moradias, que deverão ser construídas sem barreiras arquitetônicas. O valor das prestações dos imóveis deverá acompanhar o valor da aposentadoria e 3% das moradias deverão ser destinadas aos idosos.A prioridade ao idoso também será aplicada em qualquer processo, seja na Justiça ou em repartição pública. "E a Justiça deverá criar varas especializadas em Direitos dos Idosos", disse Caetano. O Estatuto garantiu, ainda, a especificação de diversos crimes contra o idoso. "O projeto do Estatuto é bastante abrangente, de forma a trazer em seus 120 artigos a proteção integral para a terceira idade", afirmou o advogado.Marilda Canelas, representante da Vila Prudente, ressaltou a contribuição da Frente Parlamentar Estadual Pró-Envelhecimento Saudável para a melhor informação da população: "A aprovação e a implementação do PL depende da nossa pressão."Mobilização e lutaAparecida Inês Pereira Santos, presidente do Conselho Municipal do Idoso, e Arnaldo Muchon, conselheiro e membro da Associação dos Bancários Aposentados, destacaram alguns tópicos do Estatuto e colocaram a entidade à disposição para a mobilização.O presidente do Conselho Estadual do Idoso, Antonio Salgado, lembrou dos mais carentes: "Nós podemos defender nossa vida e nossos direitos. Os que não podem estar aqui precisam de nós, do nosso carinho e do nosso trabalho". Segundo ele, temos hoje 14 milhões de idosos no Brasil, numero que chegará brevemente a 30 milhões. "O que a sociedade e as autoridades estão fazendo para atender essa população?", perguntou.Salgado questionou ainda a falta de um conselho nacional do idoso e o fato de as autoridades encararem os direitos dos idosos como uma forma de onerar o país.Segundo ele, a luta não acaba com a aprovação do estatuto. "O perigo é acreditarmos que com a aprovação não precisaremos fazer mais nada." Respeito e carinhoDois artigos do Estatuto do Idoso foram abordados mais intensamente pelo professor e sociólogo Cláudio José dos Santos, fundador da Universidade Aberta da Terceira Idade, de Santos: o artigo 25 e o artigo 27. O artigo 25 diz, segundo ele, que os currículos mínimos do ensino formal deverão abranger conteúdos voltados ao processo de envelhecimento e respeito ao idoso, com o intuito de eliminar preconceitos e disseminar conhecimento. Já o artigo 27, diz o professor, trata de espaços ou horários destinados aos idosos nos meios de comunicação, voltados à educação e cultura também com o intuito de discutir o processo de envelhecimento. "Acredito que a causa principal do tratamento que é dado aos idosos é que para a sociedade capitalista o indivíduo vale alguma coisa se e quando produz", afirmou Cláudio Santos. Para ilustrar, o professor lembrou a expressão população economicamente ativa: "O passivo é considerado um peso morto, não interessa". Santos falou ainda sobre o aumento da expectativa média de vida do brasileiro, que hoje está em torno de 70 anos. "No afã de melhorar a qualidade de vida, a ciência colaborou para aumentar essa expectativa. Hoje, a existência após trabalho já chega a 30 anos".