A greve dos professores e funcionários das universidades federais e a dos servidores do Judiciário já duram longo tempo. Ambas foram motivadas, basicamente, pelo desejo de que os salários de uns e outros sejam reajustados. Não se questiona a validade do pleito. Não se pode, porém, fechar os olhos para a total incapacidade de os poderes Executivo e Judiciário atendê-lo. Por conta das limitações orçamentárias e da própria Lei de Responsabilidade Fiscal, é impossível conceder aumentos nos níveis desejados. Não é possível que os grevistas não saibam disso. O que acaba por levantar dúvidas sobre as reais motivações dos movimentos.

O resultado da intransigência - ditada, possivelmente, pela proximidade das eleições gerais de 2002 - é de todos conhecido: alunos sem aula, correndo o risco de perder um semestre de suas vidas; ameaça de não haver vestibulares no final do ano, o que prejudicaria milhares de jovens; uma infinidade de processos parados, por falta de expediente. Não é difícil perceber que, mais uma vez, a população está pagando a conta. O governo, é certo, sempre sai desgastado politicamente de episódios como esses. Por conta de uma decisão judicial, os servidores não poderão sofrer cortes de salários nem desconto dos dias em que deixaram de trabalhar.

Diante de uma situação dessas - onde, como se disse, por absoluta limitação legal, não há como os poderes Executivo e Judiciário atenderem às reivindicações dos servidores -, só nos resta torcer para que estes sejam tocados pelo bom senso, negociem em cima de números, deixem de lado eventuais motivações políticas, considerem o prejuízo que estão causando a parcelas significativas da sociedade. Até porque, numa queda de braço como a que estamos assistindo, não há vencedores. Logo, também não há batatas para ninguém.

Milton Flávio é deputado pelo PSDB, presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Assembléia Legislativa e professor da Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu.