Por muitos anos o PT disse que a solução dos problemas do país era coisa muito simples. Bastaria eleger Lula para que ele, aconselhado pelos seus iluminados assessores, transformassem o Brasil no País das Maravilhas.

Todos os problemas, garantia o PT, eram fruto da incompetência ou desonestidade dos governantes, da sua falta de compromisso com o povo e com os trabalhadores. Ao colocar Lula lá estes problemas não existiriam e então todos, em especial os mais pobres, poderiam ser felizes, viver na fartura, ter ótimos empregos e melhores salários, contar com uma fantástica rede de infra-estrutura e proteção social.

As condições para que isto ocorresse estavam todas lá, bastaria afastar do poder os tucanos egoístas e comprometidos com as elites, bem como seus aliados latifundiários e coronelistas, para que se descortinasse um novo Brasil no qual os mais pobres finalmente teriam vez. Para fazer isto não era necessário nenhum milagre, bastava eleger os candidatos do PT porque eles sabiam o que devia ser feito.

A imensa maioria do povo só descobriu que tudo isto não passava de histórias da carochinha depois de ter atendido aos apelos publicitários do PT e colocado Lula Lá. O mesmo Lula que jurava que a transformação seria rápida e fácil agora reclama que estão a exigir dele que faça milagres.

O único milagre que a sociedade espera de Lula é que ele cumpra suas promessas, seja coerente consigo mesmo e coloque em prática o seu programa de governo tantas vezes apresentado à população. Ou então que ao menos reconheça que errou, que em função da sua inexperiência não tem as soluções fáceis para todos os problemas do país, como apregoou nos 24 anos de existência do PT.

O presidente não pode reclamar, afinal, de ser julgado com a mesma balança com a qual julgou todos os últimos governos, em especial o PSDB. O PT asseverou que O PSDB gastava pouco na área social, mas reduziu significativamente as verbas para este setor quando chegou ao poder. O PT criticava o governo tucano por investir pouco, mas reduziu as verbas para investimentos no orçamento para irrisórios 0,24%. O PT dizia que Fernando Henrique privilegiava o pagamento da dívida quando deveria usar este dinheiro para melhorar a condição do povo, mas ampliou em quase 10% o percentual do orçamento que foi utilizado para o serviço da dívida.

De repente parece que o PT descobriu que a realidade existe, que as coisas do mundo real são muito mais complicadas do que podem parecer a quem não tem a experiência concreta para nortear seus planos. A se crer que o engano do PT foi provocado, de boa fé, pelo desconhecimento da realidade complexa com a qual tinham de lidar, ainda assim o partido não pode dispensar-se de fazer uma autocrítica, de vir a público e reconhecer que a imensa maioria das coisas que disseram nos últimos anos e por meio das quais se elegeu eram rematadas bobagens e delírios.

Mas o que o PT faz é o contrário, na sua arrogância e pretensa auto-suficiência tenta negar as suas palavras, produzir uma amnésia coletiva para que a população esqueça as promessas feitas e ainda, para desestimular qualquer crítica, assumir uma postura autoritária de indignação com quem cobra os resultados prometidos. O presidente chega a ensaiar uma falastrona fúria contra aqueles que tem o desplante de exigir que ele faça aquilo que jurou fazer.

Cobrar coerência e consistência parece ter se tornado uma ameaça à segurança nacional, quase um crime de lesa-majestade, punível com as mais vexatórias e inauditas críticas e com a ira do presidente e de seu primeiro-ministro. A coerência, na visão dos petistas, parece ser algo reservado apenas para os comuns dos mortais, não para a cúpula governante.

*Pedro Tobias é deputado estadual e membro das Comissões de Educação, Saúde e Higiene e Promoção Social da Assembléia Legislativa de São Paulo e vice-presidente do Diretório Estadual do PSDB .