O ENSINO RELIGIOSO E AS PRIORIDADES DA EDUCAÇÃO - OPINIÃO

Márcio Araújo*
30/08/2000 16:37

Compartilhar:


A educação no Brasil caracteriza-se por uma série de reveses que denotam fragilidade, impedindo o preenchimento de lacunas indispensáveis ao modelo ideal, de acordo com a realidade do país.

Admitimos algumas mudanças realizadas na gestão do governo estadual, tais como a reorganização do sistema escolar, elevação do tempo de estudo no ensino fundamental, combate à repetência, evasão escolar e o incentivo à autonomia através da descentralização do ensino, e afirmamos que ainda faltam muitas providências para que a educação oferecida seja satisfatória.

Apesar dos inúmeros problemas, a proposta de ensino religioso tem sido apresentada tentando encobrir uma atribuição que é de competência da família e das igrejas.

A religião, como forma de fé, não tem cunho de disciplina fundamental para formação intelectual, haja vista dar margem a diversas interpretações, tendo como base tradições familiares, dentro de um contexto subjetivista.

O educador, ao ministrar aulas de matemática, conta com os fundamentos de uma ciência exata, tendo respaldo para experimentos e comprovações. De igual modo as disciplinas humanas também apresentam coerência fundamentada.

A religião, entretanto, não é uma ciência precisa. Ao contrário, muitas contrapõem-se radicalmente entre si, refutando teses ou defendendo princípios, chegando ao extremo de dar vida a grupos extremistas ou facções que são causas de guerras, como vemos no mundo moderno.

Do ponto de vista prático, uma vez que não existe algo que possa ser ministrado de maneira única a todas as pessoas, a aplicação de uma religião única a um grupo de pessoas, constitui-se em uma violação das liberdades fundamentais de consciência e de crença dos que não comunguem dos mesmos princípios.

Outro aspecto negativo está no custo da implantação e manutenção desse tipo de ensino utilizando verbas para a contratação de profissionais e disponibilizando recursos para viabilizarem sua implantação.

Diante da unânime insatisfação dos professores e de outros profissionais do setor, tal procedimento, caso aplicado, tornar-se-ia uma grande aberração.

O dispêndio do dinheiro para tal fim deveria, sim, ser carreado em prol do reajuste desses profissionais, bem como no emprego da melhoria do ensino pedagógico, capacitação de docentes, adequação das escolas às matérias teóricas e práticas e aquisição de mobiliário escolar.

As prioridades do sistema educacional requerem a adoção de medidas aplicáveis a curto prazo para que proporcionem melhor reestruturação do ensino.

Em toda expansão do ensino no Estado, são grandes as deficiências estruturais e qualitativas das escolas. Muitas não dispõem de recursos audiovisuais em quantidade suficiente para aplicação das propostas pedagógicas, existe falta de material didático, ausência de segurança e principalmente escassez de vagas, sobretudo da oferta para o jovem do ensino médio que precisa trabalhar para sustentar a si mesmo e à família. A informatização, imprescindível para a formação de um currículo pleno, também acontece de maneira morosa e não se estende à maioria das comunidades escolares, estando na mesma situação o ensino de línguas estrangeiras.

O ensino religioso não acresce, subtrai. Sua aplicação vem a tardar o aprimoramento do ensino público em muitos aspectos.

A prerrogativa do Estado de assegurar a adoção de medidas preventivas que evitem lapsos na formação do indivíduo como cidadão sugere que questões como a educação religiosa fique a cargo da família e das Igrejas, evitando assim os males decorrentes da implantação desse sistema no currículo escolar.

*Márcio Araújo é coronel da Aeronáutica, ex-presidente da Sociedade Pestalozzi de São Paulo, Pastor, ex-presidente da Igreja Universal do Reino de Deus e deputado estadual pelo PL.

alesp