A ÁGUA POR UM FIO - OPINIÃO

Lobbe Neto*
18/08/2000 14:12

Compartilhar:


O poder devastador do homem chegou a seu limite. Tendo como aliado o despreparo do Poder Público, desmoronamos o mito de que a água é um bem inesgotável. O fato de sermos detentores de 13% de toda a água doce do planeta não nos exclui de um futuro perigoso, porque ela é mal distribuída no território. Cerca de 70% de nossos recursos hídricos concentram-se na Bacia Amazônica, onde vive apenas 7% da população. A Região Sudeste, que abriga 42% da população, dispõe de modestíssimos 6% da água potável do país, volume insuficiente para abastecer todos os consumidores. Três milhões de pessoas, que vivem na Grande São Paulo, sentem na pele o racionamento. A cada dois dias, enfrentam o rodízio d´água, cujo fim fora decretado pela Sabesp dois anos atrás. Os apelos do governo para que a população economize água e energia tornaram-se corriqueiros.

Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente (Sintaema), a falta de investimentos é seguramente a principal razão que deixa a maior cidade da América do Sul em estado de alerta permanente. Por conta do desajuste nas contas da companhia por causa da desvalorização cambial, diretores da Sabesp optaram pela paralisação de obras que aumentariam a produção da represa de Guarapiranga em, no mínimo, dois mil litros por segundo. Uma decisão equivocada e agravada por uma estiagem não vista havia 50 anos. Agora, a Sabesp tenta em dois meses o que deveria ter sido executado até no passado. Para que o nível da represa não caia a 15% de sua capacidade, o que inviabilizaria o tratamento da água captada, a companhia tenta reverter as águas do Rio Taquacetuba e da represa Billings para a Guarapiranga.

Investimentos nesta área precisam ser constantes e acompanhar o consumo per capita que hoje no país é o dobro do que 20 anos atrás, quando a disponibilidade de água por habitante era duas vezes maior. A Sabesp necessita de um planejamento eficente para realizar obras de captação de água e realizar manutenções nas redes distribuidoras capazes de diminuir o desperdício elevado de água. Hoje, em São Paulo, esse desperdício chega a 40%, enquanto nos países desenvolvidos gira em torno de 15%.

Mas a causa do risco de desabastecimento vai além da estiagem e das trapalhadas dos burocratas do governo. O problema é reflexo da falta de uma política de conservação de solo em áreas urbanas. A ocupação desordenada em áreas de vegetação e de mananciais impermeabiliza o solo, impedindo a infiltração da água, e deixa de alimentar os lençóis freáticos. Daí, as inundações no verão e o racionamento no inverno. Para o chefe do departamento de Ecologia da Unesp, professor Antônio Camargo, é urgente a cooperação mútua entre o governo do Estado e as prefeituras no planejamento urbano que ordene a ocupação do solo.

O racionamento sintetiza a fragilidade das reservas de água da região metropolitana, seu uso e a ameaça que sofrem os mananciais. De 1989 a 1996, a represa de Guarapiranga perdeu mais de 15% da cobertura vegetal com a ocupação clandestina.

No interior, a ameaça chega de outra forma. O uso indiscriminado de agrotóxicos e a mineração contamina os lençóis freáticos, fonte que irriga os leitos dos rios e fundamental no abastecimento d´água tanto na zona rural como nas cidades de pequeno e médio porte. É preciso que voltemos toda a atenção para um dos bens mais necessários à sobrevivência de todas as espécies, que é a água potável, pois ela está por um fio.

*Lobbe Neto e deputado estadual pelo PMDB e 2.º vice-presidente da Assembléia Legislativa.

alesp