Quadrilha

Opinião
20/06/2005 15:35

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Antes de tudo, cabe uma ressalva: ao contrário do que pode sugerir o título acima, eu não estou aqui a acusar quem quer que seja de nada. Tento apenas, e de forma modesta, prestar homenagem singela ao poeta Carlos Drummond de Andrade. No caso, "quadrilha" não é bando nem súcia nem corja. É apenas "dança popular, própria dos festejos juninos", que está a pegar fogo no país, com direito a muitos morteiros e rojões.

Creio que, como eu, não foram poucos os que dele se lembraram nos últimos dias " por conta do depoimento de Roberto Jefferson à Comissão de Ética da Câmara Federal e também por conta das reações que ele, o depoimento, suscitou.

Não conto a história por razões óbvias: ela é do conhecimento de todos. O que ali se viu foi nada mais que o presidente de um partido acusando de práticas condenáveis presidentes de outros partidos e representantes do Governo Federal. Estes últimos, uns ao vivo, outros por telefone, se limitaram a dizer que o denunciante não tinha nenhuma prova do que dizia e que ele próprio não é flor que se deva cheirar. Mas eles, afinal, não se amavam tanto, há tão pouco tempo?

Onde entra o poeta nesta história? Pela via torta do poema Quadrilha, que nos informa que uns e outros se amavam tanto, mas que, infelizmente, o destino acabou por inviabilizar por completo a convivência, quando não o próprio amor que uns sentiam por outras. É certo que até agora o J. Pinto Fernandes, o que se casou com Lili " a que não amava ninguém ", ainda não entrou na história. Mas o filme triste, a rigor, só está começando. Quem será, afinal, o J. Pinto Fernandes dessa novela?

Ao assistir tudo aquilo " uns e outros se acusando mutuamente de práticas cabeludas ", me lembrei de um outro poeta, ainda que este, ao menos que eu saiba, nunca tenha cometido versos, engenheiro que era: Mário Covas.

Se ele estivesse vivo, algo me diz que, ao se deparar com o que vimos, daria sua sentença: "Todos têm razão nas acusações que fazem uns aos outros".

Que tempos, J. Pinto Fernandes!

Milton Flávio (PSDB) é professor de Medicina da Unesp (em Botucatu) e vice-líder de governo na Assembléia Legislativa de São Paulo

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